“Em muitas pessoas a palavra antecede o pensamento, sabem apenas o que pensam depois de terem ouvido o que dizem.” – Gustav Le Bon
Estranho, não? Se é justamente no cérebro que residem as idéias e todo o emaranhado de estruturas necessárias para a articula-las, como podem algumas pessoas se ouvirem apenas depois de falarem? Não é minha especialidade, mas tenho visto este tipo de fenômeno com cada vez mais frequência. Pessoas que falam sem se dar conta do que estão falando, e pior: sem se darem conta das implicações de suas palavras.
Todas as pessoas são responsáveis por aquilo que dizem. Não pode servir como justificativa o “eu estou repetindo o que me disseram”, ainda mais se levarmos em consideração que o “eu estou repetindo o que me disseram” é seletivo. As pessoas em questão sempre repetem frases e idéias do tipo A. Nunca do tipo B ou de qualquer outro tipo. O mundo que vivem já foi programado, e suas existências mera obra do acaso. São um mal necessário. Não são princípio ou fim. Apenas o meio.
Apesar dos inúmeros avanços em se tratando da ciência como um todo, no campo das idéias, principalmente na área de Humanas, as paixões ainda predominam nos discursos. Ainda que sejam Ciências Humanas, os tais “cientistas” ignoram por completo a realidade dos fatos e qualquer método científico verossímil, preocupando-se apenas em encontrar dados que possam justificar, ainda que de maneira torta, uma determinada linha de pensamento que já tinham como certo antes de iniciados os trabalhos! É a vulgarização da ciência, tal como se os pais de uma criança fossem determinados depois de seu nascimento, e não fossem, de maneira direta, responsáveis pela genética daquele ser.
Em um mundo como este, de idéias órfãs, frases de efeito ganham força e são exaustivamente repetidas, após terem sido cuidadosamente criadas por “cientistas” em seus laboratórios ideológicos. Esses “cientistas”… Estes sim, de fato pensam. Ainda que tais frases e idéias passem por cima do óbvio, do notório, conseguem engendram no senso comum do rebanho varonil uma realidade sem lastro, sem pudor, sem compromisso. E mesmo diante dos fatos, esta realidade é nada. E ainda assim é chamado de louco quem ousa rebate-la.
Mas isso não está acontecendo por acaso. As escolas demoraram anos criando esta matéria-prima acéfala. Especializaram-se nisso. Pesquisas recentes indicam que 50% dos universitários brasileiros são analfabetos funcionais, incapazes de imprimir qualquer tipo de raciocínio critico a uma idéia, a uma determinada linha de raciocínio. E ainda que haja bolsões de esperança em alguns esparsos e cada vez mais raros cantos, a esmagadora massa de ruminantes faz questão de não pensar, e tomar com sua uma realidade que sequer existe.
Não é possível que uma sociedade subsista assim. Em uma sociedade que carece de valores, a repetição de quem fala o que não pensa, que de fato não processa, se torna lei, e essa lei não é só regra, mas também punição para os que nela não acreditam. O “Duvido, logo penso, logo existo” foi substituído pelo “Acredito, logo existe”. E por conta de acreditar e nunca duvidar, afunda-se a sociedade cada vez mais na areia movediça de suas próprias certezas. E as vozes dos que duvidam, cada vez mais abafadas, são entendidas como o choro dos perdedores. Estes são as aberrações da natureza.
Duvido de mim. Duvido deste texto. Espero que faça o mesmo. Questione-o. Aponte seus defeitos. Sugira melhorias. E não faça isso apenas com este texto. Faça isso a cada minuto da sua vida. Questione se você realmente tem direito de não questionar e decida se quer ser ou não cúmplice de seu destino.
Não repita. E se for repetir, antes disso processe. Não deguste apenas queijos, vinhos ou cervejas. Deguste pensamentos também. Permita-se. Crie o instrumental necessário para sua saída definitiva de Matrix.