E eu escrevo
Escrevo
Escrevo
Escrevo
Escrevo
Não paro
De fato, não consigo
Não é que eu queira
O poema é meu amigo
Serve-me como alívio e castigo
É que dentro de mim cresce tanto
No riso e no pranto
Na alegria e no desencanto
Que eu simplesmente preciso
Para continuar vivo
De alguém ou algo que me escute
Que simplesmente me escute
Sem entender ou perguntar os motivos
É tudo, é muito
Está nos cheiros
Nos gostos
Nas coisas mais comuns
Nas mais complexas
Quem dera os motivos fossem
Apenas alguns
Mas são infinitos
Aflitos
Desde os mais vulgares
Aos mais eruditos
Não se trata só do que aconteceu
É o agora e o futuro
É o que não vivemos
O que não temos
O que fingimos que não temos
É o que sonhamos
É o que queremos
Lembro-me não só do que fizemos
Mas do que não fizemos também
E as lembranças que não ocorreram –
Que existem, porém –
São o cerne dos nossos assuntos
É que mesmo quando estamos distantes
De fato estamos estamos
Sempre
Realmente juntos
Será possível escrever nossa história
Em 211 poemas ou 711 prosas?
Não foram só doces momentos
Há todo tipo de sentimento
E sinto-te aqui, agora
É assim todo o tempo, ora!
E em nossas risadas
Para lá de animadas
Sequer diferencio
O futuro de outrora!
Não há folhas suficientes para isso
Não é possível tudo isso escrever
Ainda estou na superfície
De tudo que fomos, somos e podemos ser
Não vou nem tentar, então
Que seja um livro aberto
Páginas desordenadas
Rabiscadas
E em branco
Que não saem da memória
Idéias soltas
Idéia fixa
Feitiço
Duelo
Outono
Silêncio
Ato
Intensidade
Realidade nossa
Fica comigo
Tua
Confissão
Brinde
Sim… Tudo isso tem nexo
E nós sabemos disso.