No Brasil de hoje, está em curso um preconceito muito grande com relação as Ciências Humanas de uma forma geral, sendo isso relativamente fácil de ser explicado.
Há uma definição na página da UFMG que achei brilhante:
“Em casa, nas ruas, nos ônibus, na escola, no trabalho, no mundo virtual. Em todos os lugares, os seres humanos estabelecem relações entre si, sejam elas de amizade, afeto ou poder. Mas quem é capaz de compreendê-las? As Ciências Humanas procuram ir fundo naquilo que é mais peculiar em nós e talvez, por isso, mais difícil de ser desvendado: a nossa humanidade. Filosofia, Psicologia, Ciências Sociais, História e Pedagogia. Quem escolhe trilhar um desses caminhos deve se desfazer de preconceitos e não se contentar com o óbvio.”
Copiado hoje, no dia 08/05/2019, desta página. O autor do texto é Vinícius Luiz.
O próprio texto já explica o desafio: como essas ciências tratam de fatos do nosso dia-a-dia, é muito fácil para os desavisados acreditar que se trata apenas de senso comum, e por se tratar de senso comum, é algo raso e de fácil compreensão. Grave engano. Gravíssimo!
Vou citar um exemplo da minha área (sou formado em Ciências Econmômicas, que é uma Ciência Humana). Tenho lido com frequência que, para aumentar a arrecadação do governo, é preciso aumentar impostos. Parece algo sensato, não? Diminuir gastos e privilégios completamente desnecessários deveria ser mais óbvio ainda (mas vamos deixar isso para outro post). Então, apresento-vos a Curva de Laffer:
Essa curva é bem elementar para quem fez o curso de Economia, e basicamente (e de forma bem simplificada) quer dizer que há um ponto ótimo em que a carga tributária arrecada o máximo que é possível sem prejudicar a atividade econômica. Trocando em miúdos, ao contrário do que se pode esperar como leigo, aumentar os impostos pode realmente diminuir a arrecadação do governo, até mesmo ao ponto de não haver arrecadação (e nem produção). Maiores detalhes podem ser encontrados nesta página.
Percebem o dilema? As discussões nas redes sociais, por exemplo, baseiam-se, em sua grande maioria, no senso comum. E como falta ao brasileiro (especialmente!!!) a humildade para perceber que há mais sobre um determinado assunto do que ele consegue perceber, dão-se os embates improdutivos e que só servem para dividir ainda mais a sociedade.
Muitos dizem: “Tales de Mileto não era formado em Filosofia! Aristóteles e Platão também não! Nem Descartes!” Pois é… Mas estes foram mais do que isso: foram as pedras angulares do que conhecemos sobre Filosofia nos dias de hoje. Muito foi contruído em cima do que eles disseram, e para entender essa base de conhecimento e discutir com propriedade é necessário SIM fazer uma faculdade (ou ser um autodidata minimamente sério, sob pena de ser cooptado pelo seu próprio entendimento, pelo senso comum).
Não vou entrar na questão que envolve aqueles que se utilizam da ciência para justificar as suas ideologias. Essa é outra questão completamente fora do que quero cobrir aqui, mas agrava ainda mais a percepção leiga de que não há um mínimo conjunto de regras ou conhecimento sobre o qual os “escolados” se apoiem diante de uma discussão.
Sem mais delongas, espero ter conseguido cumprir o meu objetivo. Fiquem atentos ao que é dito apenas com o intuito de politizar ou minimizar os mais variados campos de conhecimento da humanidade. Não chegamos até onde estamos somente através da Matemática, por exemplo. O bom mesmo é falarmos do que entendemos, reservando a nós mesmos sempre o direito de termos a nossa própria opinião, desde que sejamos capazes de entender as nossas limitações. Para maiores detalhes, sugiro pesquisar sobre Episteme e Doxa.
Comentários? Por favor! 🙂
Sugiro a leitura dessa reportagem:
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https://m.dw.com/pt-br/a-pra%C3%A7a-da-ignor%C3%A2ncia/a-48598994
A praça da ignorância DW 06.05.2019
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Era para aprendermos com a História e não repeti-la…
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Por isso é bom relembrá-la…pensar na vida dos antepassados para chegarmos onde chegamos e querer voltar…
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Muito triste com o que ando vendo por aí. Muito mesmo. Decepcionado não, porque não esperava nada diferente, mas está feia a coisa!
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Qualquer ciência exata que não se basear nas humanas é fria, feia é inócua!
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Posso refrasear? Rs. A Ciência Exata é mais difícil de ser questionada pelos leigos, porque o senso comum não toca nem de longe em Cálculo Integral, por exemplo. A grande questão é o uso que se faz dessas ciências, e creio que é a isso que você se refere. A mesma energia nuclear que ilumina cidades destrói cidades inteiras. Acho que é por aí… 🙂
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Isso mesmo! Falta humanidade nas ciências exatas e “inquestionáveis”. Como os “exatos” dizem. Dois e dois são quatro e não talvez cinco ou seis. Nesse “conforto” se encostam. Nisso está a destruição humana.
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Por ai. 🙂
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