Perguntais-me como me tornei louco. Aconteceu assim:
Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas – as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas – e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente gritando:
“Ladrões, ladrões, malditos ladrões!”
Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim. E quando cheguei à praça do mercado, um rapaz no cimo do telhado de uma casa gritou:
“É um louco!” Olhei para cima, para vê-lo.
O sol beijou pela primeira vez a minha face nua.
Pela primeira vez, o sol beijava a minha face nua, e a minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais as minhas máscaras.
E, como num transe, gritei:
“Benditos, benditos os ladrões que roubaram as minhas máscaras!”
Assim tornei-me louco.
E encontrei tanta liberdade como segurança na minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós.

Lindo texto.
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Achei espetacular! Muito impactante mesmo. Obrigado pela visita. 🙂
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Khalil Gibran é sempre um autor a ter presente.
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Realmente! Eu o conheci através da minha mãe há tempos. Sensacional!
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Pingback: Loucos por viver | Poesias de Mãos que Sentem
Ah, a loucura nos salva de nós mesmos.
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“Em caso de excesso de lucidez, loucure-se” – Não sei de quem é essa frase, mas é isso mesmo!
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Maravilhoso
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A obra dele é toda sensacional! 🙂
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Amei!!
Bom sentir essa louca liberdade!!
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Muito bom mesmo! Obrigado pela visita. 🙂
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Sou naturista e comumente me acham doido por aceitar a naturalidade do corpo. Esse texto é esclarecedor das nossas múltiplas máscaras e como nos libertar delas.
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É sobre ir em frente como somos. O texto é realmente fantástico! Obrigado pelo comentário e por sua visita. Abs.
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“Nos degraus do templo”, do livro “O Louco”, não conseguir comprreender essa parabola, alguem poderia externar??? Grato
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Boa tarde! Você está falando deste texto?
“No Templo
Ontem à tarde, nos degraus de mármore do Templo, vi uma mulher sentada entre dois homens. Um lado de seu rosto estava pálido; o outro, enrubescido.”
Parece-me que a mulher está entre um homem que a oprime, ou no mínimo a assusta (lembrando que palidez é algo relacionado à morte) e outro que a deixa enrubescida, cheia de vida. Que a faz se sentir amada, talvez?
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