Os copos e os pratos ficaram sobre a mesa, porque voltaríamos para terminar o jantar. Nunca mais voltamos.
A comida, agora fria e fedorenta, terá como destino o lixo. Um desperdício diante da fome do mundo, da nossa fome em particular.
Os finais são sempre tristes. Final feliz talvez seja só a morte, porque este acaba de uma vez com toda e qualquer possibilidade de se conviver com outros finais tristes.
Mas ainda assim a morte é um final triste, porque mesmo a vida mais triste de todas, está permeada de momentos que são felizes. Incríveis. Inesquecíveis.
E talvez o amor seja justamente o espaço entre um final triste e outro. O lugar onde a comida ainda está quente e o vinho ainda não virou vinagre. Tudo no ponto e na temperatura certa. Mesa posta e exposta.
E hoje, quando lembro do nosso final triste, lembro dos momentos de amor que foram felizes. Não foram poucos. Eles eram e existem, e insistem em fazer graça, em me fazer sorrir, ainda que seja um sorriso triste.
E vou seguindo em frente, sendo feliz aqui e ali, torcendo para nunca mais ter que viver um final triste, muito embora eu saiba que essa é uma possibilidade que não existe.
