Inerte

Hoje,

Vou deixar tudo para amanhã.

Porque hoje,

Meu foco é o ontem.

Quero lamentar tudo que não fiz.

Quero sofrer por tudo que não aconteceu.

Hoje,

Vou deixar tudo para amanhã,

E o amanhã será assim também.

8 pensamentos sobre “Inerte

      • Adiamento

        Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã…
        Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,
        E assim será possível; mas hoje não…
        Não, hoje nada; hoje não posso.
        A persistência confusa da minha subjetividade objetiva,
        O sono da minha vida real, intercalado,
        O cansaço antecipado e infinito,
        Um cansaço de mundos para apanhar um elétrico…
        Esta espécie de alma…
        Só depois de amanhã…
        Hoje quero preparar-me,
        Quero preparar-rne para pensar amanhã no dia seguinte…
        Ele é que é decisivo.
        Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos…
        Amanhã é o dia dos planos.
        Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo;
        Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã…
        Tenho vontade de chorar,
        Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro…

        Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.
        Só depois de amanhã…
        Quando era criança o circo de domingo divertia-rne toda a semana.
        Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância…
        Depois de amanhã serei outro,
        A minha vida triunfar-se-á,
        Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático
        Serão convocadas por um edital…
        Mas por um edital de amanhã…
        Hoje quero dormir, redigirei amanhã…
        Por hoje, qual é o espetáculo que me repetiria a infância?
        Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã,
        Que depois de amanhã é que está bem o espetáculo…
        Antes, não…
        Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei. Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.
        Só depois de amanhã…
        Tenho sono como o frio de um cão vadio.
        Tenho muito sono.
        Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã…
        Sim, talvez só depois de amanhã…

        O porvir…
        Sim, o porvir…

        Álvaro de Campos

        Curtido por 1 pessoa

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