És assim:
A última coisa que penso antes de morrer
Morro todas as noites
Ressuscito todos os dias
E da gaveta do meu necrotério pessoal
Onde permanecem insepultos
Tanto o bem quanto o mal
Levanto-me e não me encontro
No obituário do jornal
E nesse estado de inexistência e torpor
Morto e roto
Liberto do amor
Não sinto tua falta
De fato, nada sinto
Pois lá
Seja lá onde esse lá for
Nem tu nem eu existimos
Dia e noite
Noite e dia
Vida sem sorte
Abraça-me a morte
Nua e fria!
Esquece-me a vida
Sufocante agonia!
Inexistência de tristeza e alegria
Eu diria
Não fosse esse implacável despertador
Que todo santo dia
É meu desfibrilador
E que me lembra de sentir dor
Cirurgia de peito aberto de saudade
Sem nenhuma anestesia.