Considero uma das poesias mais bonitas que eu já escrevi. Gosto muito, muito desses versos.
Anteparo
Parece que cresce
Que remexe, que tece
Que cria raízes
Mas é fotografia
De álbum antigo
De melancolia
Só que é tão presente
Que quando ausente
Não deixa nem respirar
E quando presente
Faz o não coerente
Para a razão se ausentar
Talvez seja eterno
O jeito mais que doce
De não falar de amor
De um amor tão calado,
Que berra pecados,
Que urra e canta…
A beleza de amar
O que o torpe destino
Não quis coroar
Pois nem coroa apresenta
E seu cetro só ostenta
Lágrimas de um trovador
E nesse império
De luxúria e mistério
Rego com lágrimas o que plantei
Um sopro de vida
Uma divina rotina
De carinhos não meus
Quem sabe outra chance
Outro dia, outro lance,
Com a sorte desnuda
Feito meu peito rasgado
Pelos lábios molhados
Que eu afirmo: são meus.
Que sirva de aviso –
Não há prejuízo
Em amar até morrer
Pois até no desamparo
O amor é o anteparo
Dos males do eu.