E sentado rente ao mar
As idéias ali defronte
Indo e vindo em espasmos
Em ondas e ventos
Que se misturam e se atormentam
Distorcendo o horizonte
Jazo imóvel:
Coração que sangra impecável
Diante do destino incerto
E da ferida desnecessária
Ignóbil
E me vejo naufragando
Nas poças que gero eu mesmo
Na esperança
Que se faz de desentendida
Feito quem acredita
E nunca alcança
Mas salva-me o vinho
Meu bom companheiro
E traz-me algum tipo
De ébria pujança
Que faz despir-me de mim mesmo
E perceber que ainda sou
Absoluta verossimilhança
E bem ao fundo
Diante do todo que se cala
Porque se declara mudo
Ouço todos os detalhes
E o quanto
Ainda acredito
Apesar dos pesares
Nas coisas boas deste mundo
E ainda sentado rente ao mar
Eis que as ondas cessam
O sol se abre
E a miudeza desaparece:
Foi só um susto –
Declaro –
E agora já não me desconheço
Porque sou e quero o mesmo de sempre
Por fora
Ou mesmo quando estou do avesso.