Do avesso

E sentado rente ao mar

As idéias ali defronte

Indo e vindo em espasmos

Em ondas e ventos

Que se misturam e se atormentam

Distorcendo o horizonte

Jazo imóvel:

Coração que sangra impecável

Diante do destino incerto

E da ferida desnecessária

Ignóbil

 

E me vejo naufragando

Nas poças que gero eu mesmo

Na esperança

Que se faz de desentendida

Feito quem acredita

E nunca alcança

 

Mas salva-me o vinho

Meu bom companheiro

E traz-me algum tipo

De ébria pujança

Que faz despir-me de mim mesmo

E perceber que ainda sou

Absoluta verossimilhança

 

E bem ao fundo

Diante do todo que se cala

Porque se declara mudo

Ouço todos os detalhes

E o quanto

Ainda acredito

Apesar dos pesares

Nas coisas boas deste mundo

 

E ainda sentado rente ao mar

Eis que as ondas cessam

O sol se abre

E a miudeza desaparece:

Foi só um susto –

Declaro –

E agora já não me desconheço

Porque sou e quero o mesmo de sempre

Por fora

Ou mesmo quando estou do avesso.

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Vendo os sinais

E eu vi ali

Naquele passarinho

Que parecia não ter ninho

O que eu queria ser

 

Voar alto

Enxergar longe

Bem além de onde o sol se esconde

Quando chega a hora de dormir

 

E assim, cresci

Voei de mim

E percebi que sou sem fim

Sou sempre recomeço

 

Essas pequenas coisas

Que não tem preço

Dentro do meu coração as aqueço

Sempre as levo comigo

 

Meu passarinho amigo

Mensageiro do infinito

És o universo ouvindo meu grito

O amor florescendo do meu avesso.

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Sou do avesso

Que não te esqueças de mim

Quando a noite chega

Não tenho medo do escuro

Mas fico reflexivo, taciturno

À mercê dos perigos do mundo

 

E estes me rondam

Sondam-me

Provocam-me

Para que meu pior aflore

Que se mostre e devore

Tudo do qual não careço

Ou nutra qualquer apreço

 

Sim, quase tudo tem seu preço

E eu que não estou a venda

Fui por ti do fim ao começo

E irei do começo ao fim

Cabeça erguida

Eu sou assim

Uma ovelha desgarrada

Uma alma do avesso.

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