Amargos e doces

E não é que a vida é assim?

Dias amargos.

Dias doces.

Seriam amargos os dias amargos

Não fosse o doçura dos dias doces?

Seriam doces os dias doces

Não fosse o amargor dos dias amargos?

O contraste me faz sentir vivo.

É assim que vivo minha vida.

É assim que me aproximo de outras vidas.

Dias amargos e dias doces,

Porque a vida é assim

Tanto para você

Quanto para mim.

Banoffee com espresso duplo

Erva-doce

O cheiro da broa de milho
O café sem pressa
Os vizinhos sempre bem-vindos
Era assim quando eu era menino
E acreditava em coisas à beça

O café agora é espresso
Os vizinhos? Desconheço
A porta da rua sempre trancada
A broa de milho é da padaria
E a violência é a notícia do dia

Saudades da época em que eu achava
Que tinha tempo a perder
Do avô, da avó, dos tios, dos primos
Da sensação de não correr perigo
De ver no mundo um grande e acolhedor amigo

E nesse instante –
Agora! –
Enquanto meus pensamentos vão
Para um passado distante
O tempo parou de seguir adiante
E para mim voltou

É que eu ainda sou o menino
Que se inebria
Quando sente o cheio de erva-doce
E que queria que a vida fosse
Sempre uma tarde de domingo.

dill

Vai ou racha

Eu sou assim mesmo
Na base do vai ou racha
Não tenho muito tato
Para lidar com o meio termo

“Como está o seu café?”
Se está meio morno
Está ruim
Se está meio ralo
Está ruim

O meio termo
É meio bom
E tudo que é meio bom
É inteiramente ruim.

Café com você

Quando tudo isso passar –
Seja lá o que tiver que passar –
A primeira coisa que vou querer
É tomar um café com você

E que seja com bolo de fubá
Cheio de erva doce
Para a gente aproveitar
Tudo que a gente sempre negou
Mas que a vida sempre quis que fosse.