Conjugados

Há um poema
Entre tuas pernas
Que foi escrito
Com minha língua

Há um poema
Em tua face
Que foi escrito
Com tua caligrafia

Há partes que não cabem
Há partes que não entram
Cheiros e gostos rimados
Por fora e por dentro

Nestes saraus devassos
Nossa história escrevemos
Lirismo que não se cala
Que ou grita ou está gemendo.

Nunca se deu conta

Nutria grande paixão
Por livros

E ela lia
Lia
Lia
Lia…

Ora chorava
Ora sorria

Dia após dia
Dia e noite
Noite e dia

Nunca se deu conta
De que era um livro
Escrito com seu sangue
Com sua caligrafia –

Letras
Palavras
Frases
Parágrafos
Capítulos
Que de seus dedos
Escorriam –

E que eu queria
Minuciosamente
Vagarosamente
Lê-la.

Missa pre mortis

Anota, grava

Com tinta que não se apaga

Escreva você mesma

Para que reconheça a caligrafia

 

De pé em sua cova rasa

A paz do dia-a-dia dia após dia

Os sinos ressoam ao longe

Requiem da sua nababesca hipocrisia

 

Anota, grava

Quem sabe lerá um dia?

Analfabetismo sentimental é grave

E não se cura com música ou poesia.