Cinzeiro

Não te assustes, meu bem

Se um dia, ao acordares

Vires o meu lado em nossa cama

Frio e vazio

Fui-me

Precisei ir

 

Sem aviso formal

É fato

Mas vou-me por não me sentir útil

Vi minha vida por teu amor

Por nosso amor

Por nossos planos

Muitos, muitos anos

Ser rasgada a seco

Deixada ao vento

E com fome e frio

Perdida no tempo

Tudo feito e desfeito

Esforço impróprio

Vida pueril

Vida inútil

 

Mas declaro

Que fique claro

Que não sou algoz

E muito menos vítima

Mas eu sou fogo

Sou brasa

O combustível

O comburente

Sou a flecha

E o arqueiro

E não cigarro

Ou mero trago

Ou mesmo cinzas de qualquer cinzeiro

 

Aproveito a oportunidade

Para oferecer-te minhas sinceras desculpas

Não sei exatamente onde errei

Se foi por dar-me como me dei

Ou se foi por sonhar como sonhei

Fato é que agora sei

Que eram meus

E tão somente meus

Os nossos sonhos

E neles nos amávamos

E eu amava

Eu sempre amei

 

E na solidão agora desacompanhada

De minhas horas

Teu nome em minha memória

Saudade que condena e sufoca

Nevoeiro de lágrimas

Que derramam-se em um livro

De uma só página

Um resumo do nosso amor

“Acabou”

Era só fumaça

Mais nada.

fumo-cinzeiro-sujo-principal

Quero com você me despir

Há noites em que você me chama

E o fogo que arde em seu corpo

Em sua cama

Queira você ou não

Chega até mim

 

Já respiramos um dentro do outro

Não há limites

Nada de esquisitices

Amor visceral

Que de nós flui

E que nos faz sorrir

E outras coisas mais

 

Confesso que sinto sua falta

Do seu perfume

Do seu hálito com alucinante

De todos os nossos cheiros

De todos os nossos gostos

Que valem mais que diamantes

Que fluem –

E como fluem! –

E nos afogam

Morremos em nossos braços

Por alguns instantes.

 

Aliás, você não é mais uma

E por mais tenham existido algumas –

Meu passado eu não renego –

Você é e desde sempre foi

A única de qual não quero

Jamais me despedir

 

No máximo –

Que fique perfeitamente claro –

Quero com você me despir.

tesao

E se…

E se você fosse

Deixada aos terrores da noite

Sem nada entender

Em uma encruzilhada da vida?

 

E se suas respostas

Virassem perguntas

E não houvesse ninguém

Sequer para ouvi-las?

 

E se aquele delicioso vinho

Suave e inebriante

Ficasse seco de repente

E tivesse que bebê-lo sozinha?

 

E se a cama vazia

Seca, inerte e nua

Com lençóis gélidos

Fosse unicamente sua?

 

E se suas lágrimas

Alcançassem o chão

Formando imensas poças

Antes que alguém tentasse entendê-las?

 

E se o seu grito dorido

Vomitado do peito

Fosse ignorado

Ou mesmo esquecido?

 

E se o seu nome

Repetido tantas vezes

Em tantos tons e texturas

Fosse completamente esquecido?

 

E se…

Você pudesse evitar tudo isso?

E se…

 

Eu não sei

Nem você

Espero que jamais saibamos

Espero que seja só um

E se.

gregos3

Revirada

Se eu durmo bem ou mal

A cama acorda revirada

 

Acalma-te, alma

Tudo não és cama!

Não podes aquietar-te

Durante a madrugada?

 

Eu sei, não é fácil

Conviver com uma vida revirada.

cama desfeita