Vida sem rodinhas

Tem gente que acha que amor é doença, que felicidade é ilusão, que arriscar não é permitido, e que a idade e os compromissos são um impeditivo para viver. Tem gente que tem medo de não estar no controle, de flutuar, de borboletas no estômago, de sorrir sem motivo, de sonhar o até então impensável…

Eu? Eu não acho nada. Sei que a vida colocará em meu caminho o que for melhor para mim. Eu simplesmente acredito na minha capacidade de atrair o que é melhor e que nada acontece por acaso. Felizmente, eu já aprendi a viver a vida sem rodinhas. E quando a gente aprende, nunca esquece.

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Deixei a vida me levar

Quando eu era mais novo, por ser muito racional e por todo um histórico familiar que prefiro deixar de fora nesse momento, eu acreditava que a única maneira de ser feliz era controlando tudo. Obviamente, eu não tinha consciência disso, e usava termos alternativos para definir o tal controle. No caso de namoradas, ciúmes. No caso do colégio, perfeccionismo (notas sempre muito altas). E por aí vai…

Acontece que é simplesmente impossível controlar tudo. Não dá! Desde quando é saudável marcar em cima da namorada 24 horas por dia? Desde quando é saudável estudar não pela nota máxima, mas apenas para ter a nota máxima e usá-la como ferramenta de manipulação? “Sabe como é, coordenador… Sou o melhor aluno.”

Na prática, como não é possível controlar tudo, acabamos por criar mecanismos de manipulação dos mais variados tipos. Lidamos com os outros e ao mesmo tempo tentamos anulá-los, de forma que seja inequívoco o poder que exercemos sobre estes. O objetivo é ter e estar SEMPRE no controle.

Bem… Como vocês podem imaginar, a vida acaba ensinando que isso simplesmente não funciona. Pode funcionar no curto prazo, mas com as pessoas ficando mais maduras e espertas, o mundo da manipulação acaba ruindo. Só que você (eu, no caso) é o último a se dar conta disso, e acaba investindo de forma mais pesada ainda em maneiras de controlar o que por natureza é incontrolável: a vida.

O resultado disso? Cansaço, ansiedade, depressão… Uma sensação de impotência incrível que, por bem ou por mal, acaba tirando você (eu) da ilusão de que você é o “Master of Puppets” (sim, referência ao Metallica) e que todos são suas marionetes, cuja única finalidade existencial é satisfazer as suas (minhas) vontades. Cai por terra a ilusão de que outros são objetos secundários, passivos, sem sentimentos, etc.

E aí, dependendo das suas crenças, você acaba procurando caminhos para tentar resolver isso. Livros de autoajuda, psicoterapia, tratamento psiquiátrico, etc. Considero todos estes meios válidos, e acredito que todos podem contribuir de alguma forma. Entretanto, o formalismo da Psicanálise e da Psiquiatria levam vantagem sobre os demais, creio eu. Você não quer cair nas mãos de alguém que escreva um livro dizendo que a única saída para os seus problems é o suicídio, não é mesmo?

E depois de um tempo, você percebe que durante uma vida inteira levou sobre os ombros um peso gigantesco que não precisava levar. A tentativa vã de controle sobre tudo e todos requeria um imenso esforço, ainda que parecesse algo natural, parte da sua vida. E percebe que o que precisa acontecer, de fato acontece. A mulher que tem que ficar na sua vida, fica. Os amigos, idem. Tudo! As tentativas de controle são sumariamente ignoradas pela vida, pelo universo, e apesar do medo que isso possa gerar, não dá para negar as emoções atreladas a essa imprevisibilidade.

A vida como eu a conhecia mudou depois que me dei conta disso. Sofri e sofro quando tenho que sofrer. Sorri e sorrio quando tenho que sorrir. Eu vivo. Eu não controlo. Eu mato no peito o que tiver que vir. E com essa simples mudança, percebi que a vida tinha muito mais para me dar do que eu achava que tinha. É a famosa Lei do Retorno: eu deixo a vida me levar, e a vida me leva (Zeca Pagodinho que o diga). Onde vou parar? Não faço a menor idéia! Entretanto, depois de tomar tanta porrada da vida, descobri que essa é a ÚNICA maneira de viver. Se a vida é infinita em suas possibilidades, é para isso que estou aqui.

Que o universo e a vida conspirem em nosso favor!

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Imprevisível

“We don’t take a trip. A trip takes us.”

ou

“People don’t take trips. Trips take people.”

― John Steinbeck
Na nossa ânsia por previsibilidade e estabilidade, quase sempre nos esquecemos que não temos controle absoluto sobre nossas vidas. Nos programamos e tentamos fazer com que os próximos minutos, horas ou dias sejam de acordo com o que nós esperamos e queremos, mas isso é simplesmente impossível.
Haverá surpresas agradáveis e desagradáveis. Partidas e chegadas. Encontros e desencontros. Sins e nãos. Sorrisos e lágrimas, e assim por diante.
Que sejamos, então, humildes o suficiente para reconhecer que precisamos nos adaptar e aprender a viver todos os dias. É a vida que nos controla e não o contrário.
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Status quo

Montanha russa não é o que vivemos
É o que deixamos de viver em função
De uma ordem que não existe

Montanha russa é dizer não
Quando deveria se dizer o sim
E não se diz por medo, por capricho

Montanha russa não é tentar racionalizar
O que não pode e não precisa
De maneira alguma ser explicado

Montanha russa é o que não foi sentido
O que foi propositalmente ignorado
Para manter o status quo

Montanha russa é sermos os mesmos
Ainda que a vida insista em nos mostrar
Que há muito mais para ser vivido

Montanha russa é morrer sem ter experimentado
A felicidade da chegada, a dor da partida
Sorrisos e lágrimas que não acabam

Montanha russa é achar que há controle
Quando justamente a falta de controle
É o que cria a descarga de adrenalina

Montanha russa não é para ser
A exceção, o diferente
É para ser o que ainda não há

Montanha russa não é a fraqueza
De permanecer imóvel
Enquanto a vida insiste em nos chacoalhar

Montanha russa não somos você e eu
É de fato nós com outros
É a vida como está

Convém verificar se
A montanha russa em que vivemos
Não está desativada há tempos.

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