Missa pre mortis

Anota, grava

Com tinta que não se apaga

Escreva você mesma

Para que reconheça a caligrafia

 

De pé em sua cova rasa

A paz do dia-a-dia dia após dia

Os sinos ressoam ao longe

Requiem da sua nababesca hipocrisia

 

Anota, grava

Quem sabe lerá um dia?

Analfabetismo sentimental é grave

E não se cura com música ou poesia.

Cova rasa vermelha

Ao fundo ouço os gritos

São de falta de esperança

Sei que não são de dor ou fome

Eles não saberiam gritar por isso

Nunca deixaram de sentir dor

Nunca deixaram de sentir fome

Não conhecem o oposto disso

 

E na carência ou ausência de tudo

Eis que surge este deus imundo

Que lhes faz promessas sem dó

Esse ser infernal

Que coaduna todo o mal

Não é nem de longe Lúcifer

Mas se acha mais que o tal

 

De vermelho, acena destemido

Sabe que depende do sangue

De quem jura defender

Mas em seguida os fazer morrer

Pois são mero mal necessário

 

E no meio dessa lambança

Onde está de fato Deus?

Leva para longe essa praga

Que assola os filhos teus!

 

E Deus, em seu tempo, responde…

 

Em vermelho, agonizará pela eternidade

E nem mesmo no inferno

Terá a sua imortalidade

Pois nem Lúcifer o quer por lá

 

Será no meio dos que gritam

Em praça pública, nas ruas

Diante dos mesmos que quis

Sempre quis

Enganar

 

Será lembrado para sempre

Pelos que contra ele lutaram

Como adversário covarde

Puto, imbecil, salafrário

Sindicado será por Nosso Senhor

Que não quer cargos ou salários!

 

Quero ver a tal coragem

Quando do fundo da sua alma

For extirpado seu orgulho

E seu nome, feito entulho

For depositado em uma

Cova rasa.

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