Feliz demais

Há dias a minha frente
Há dias fantásticos as minhas costas
E no hoje, no amanhã e no ontem
Há invariavelmente você.

Ainda não consigo acreditar nas pessoas
Os “eu gosto de você” e até mesmo os “eu te amo”
Me assustam de uma forma que não sei explicar
Eu tenho medo, muito, muito medo.

Tenho preferido ficar só
Porque sozinho só há eu mesmo para me ferir
Nenhuma esperança, nenhuma expectativa
Vazios enormes que não pretendo preencher.

Passei a acreditar que só se vive um grande amor
Um único, um eterno amor que ama amar
Que ama tudo que com este amor veio
E que não sabe para onde ir quando este amor se vai.

Amo ver casais se amando no restaurantes e bares
Ou em uma simples caminhada na praia
Porque eu já senti, me pareci e vivi como eles
Hoje, não mais, não mais. Infelizmente.

Talvez eu me torne um conselheiro amoroso
Para que outros vivam o que eu já vivi
Foi tudo, a melhor parte da minha vida
E por isso agradeço a Deus todos os dias.

Neste sentido, minha vida faz todo o sentido
Porque sou testemunha do que o amor pode causar
Saudade profunda da mais simples rotina
Até da chama que queimava dentro de meu peito.

Talvez hoje eu não durma só (não é uma afirmação)
Mas eu sei que continuo sozinho
Eu te vejo e te sinto em outras bocas e outros corpos
E tenho nojo de mim quando me flagro fazendo isso.

Este texto é despretensioso, porém sincero
Para falar de mim e não mais de nós
Amo as lembrancas que de você eu tenho
Eu já fui feliz, muito, muito, muito, muito feliz, feliz demais.

Incrustrado na memória

E eu escrevo

Escrevo

Escrevo

Escrevo

Escrevo

Não paro

 

De fato, não consigo

Não é que eu queira

O poema é meu amigo

Serve-me como alívio e castigo

 

É que dentro de mim cresce tanto

No riso e no pranto

Na alegria e no desencanto

Que eu simplesmente preciso

Para continuar vivo

De alguém ou algo que me escute

Que simplesmente me escute

Sem entender ou perguntar os motivos

 

É tudo, é muito

Está nos cheiros

Nos gostos

Nas coisas mais comuns

Nas mais complexas

Quem dera os motivos fossem

Apenas alguns

Mas são infinitos

Aflitos

Desde os mais vulgares

Aos mais eruditos

 

Não se trata só do que aconteceu

É o agora e o futuro

É o que não vivemos

O que não temos

O que fingimos que não temos

É o que sonhamos

É o que queremos

 

Lembro-me não só do que fizemos

Mas do que não fizemos também

E as lembranças que não ocorreram –

Que existem, porém –

São o cerne dos nossos assuntos

É que mesmo quando estamos distantes

De fato estamos estamos

Sempre

Realmente juntos

 

Será possível escrever nossa história

Em 211 poemas ou 711 prosas?

Não foram só doces momentos

Há todo tipo de sentimento

E sinto-te aqui, agora

É assim todo o tempo, ora!

E em nossas risadas

Para lá de animadas

Sequer diferencio

O futuro de outrora!

 

Não há folhas suficientes para isso

Não é possível tudo isso escrever

Ainda estou na superfície

De tudo que fomos, somos e podemos ser

 

Não vou nem tentar, então

Que seja um livro aberto

Páginas desordenadas

Rabiscadas

E em branco

Que não saem da memória

 

Idéias soltas

Idéia fixa

Feitiço

Duelo

Outono

Silêncio

Ato

Intensidade

Realidade nossa

Fica comigo

Tua

Confissão

Brinde

 

Sim… Tudo isso tem nexo

E nós sabemos disso.

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