Inocência

Há inocência nas palavras do poeta.
Há projeções.
Há idealizações.
Há fantasias.
Há idiossincrasias.
Há crenças.
Há fé.
Há verdades que o tempo se encarrega de mostrar
Que não possuem lastro algum na realidade.

E nesse processo, algumas poesias se apagam,
Outras tantas se perdem,
E o poeta se sente um bobo,
Um contador de histórias ridículas,
Um louco,
Um palhaço de circo
Cercado por hienas famintas.

A plateia dele ri e debocha.
Caçoa-o de forma vil,
Torcendo pela sua morte,
Mal sabendo que é na morte, –
Mais uma entre tantas mortes –
No meio do escárnio e do suplício,
É que o poeta encontra a sua redenção,
Retomando a sua forma mais sublime.

Há inocência nas palavras do poeta,
Posto que a inocência é o seu líquor, sua essência,
De forma que ele apenas lamenta
Por quem em suas palavras
Nada dele viu ou a ele sentiu,
Fustigando o poeta pela sua própria existência.

Oi, Lua!

A Lua acende a noite

E eu em busca de respostas

Para perguntas que eu nunca fiz

 

Sinto saudades de algo novo

Diferente de tudo que já vivi

E que não se acabe na melancolia

De uma sofrida taça de vinho

 

Sinto-me vivo

Muito, muito vivo

E vazio, inteiramente vazio

Lembrando-me do que eu nunca fui

 

Mas também sei

Que é justamente nesses momentos taciturnos

Enquanto bebo água do fundo do poço

É que vou reinventar o meu existir

 

E nem é tão ruim assim…

A dor é amiga e companheira

É fim e também o início

De tudo que ainda está por vir

 

A Lua acende a noite

E a Lua está linda…

Como antes eu nunca a vi.

maria-te-viu-frases-falar-com-a-lua

Promessas e garantias

Que a saudade não seja dor

Mas uma celebração do privilégio

Da vida permitir que exista em mim

Pedaços generosos da sua existência

 

Que as lembranças sejam bálsamo

Para um coração para lá de agradecido

Por ter com você compartilhado e vivido

Momentos absolutamente inesquecíveis

 

Que ausência se torne presença

Mesmo com o muito que já está em mim

Lamento, mas eu sou assim

Não abro mão de quem eu amo

 

E que o universo conspire

Para que todos os meus restantes dias

Sejam de felicidade e alegria

Quer seja na saudade ou na presença esfuziantes.

a-vida-nao-oferece

Abusado e insolente

Teu segredo

Se revelou de forma veemente

Quando gritou o teu coração

E tentou ignora-lo a tua mente

 

Não seria de mais valor

Ou talvez mais prudente

Deixares de fingir que é dor

O amor que deveras sente?

 

Ah! O amor…

Essa coisa insistente

Que não pede por favor

E que torna o completo carente!

 

Ah! O amor…

Do qual tu foges bravamente

Mesmo sabendo que não há vida

Quando parte de ti está ausente

 

Ah! O amor…

Não, não estás doente

Já que és tão racional

Que reconheças: estás impotente!

 

Ah! O amor…

Que te rendas a este insistente

Que subjuga-te a seus caprichos

Não se trata de mero acidente

 

E que fique claro que sua existência

Não depende do teu aceite

O amor é o amor

Abusado e insolente.

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