Florescer

Resolvi chamar de amor o que era pura dor
E que minhas poesias inspirava.

Talvez mais algumas palavras
Mais estrofes, mais versos
Mais telefonemas e mensagens
Mais angústia
Mais lágrimas
Mais humilhações
Mais descaso
Mais falta de respeito
Mais indignidade.

Resolvi chamar isso de amor
E hoje entendo o porquê:
Falta de amor próprio
Responsabilidade minha
E de mais ninguém.

Faltou-me coragem
Para deixar ir embora de vez
A dor que não me deixava.

E no final das contas
“Amar é quase uma dor”
Apenas quando não é amor:
É apenas dor romantizada.

O amor de fato é flor
E como toda flor
Faz valer a jornada.

Deus é comigo

Hoje, olhei e admirei muitas flores

De todas as cores

Que encontrei pelo meu caminho.

E hoje, certeza que de meu rosto

Foi-se embora o sorriso tosco

De quem se via caminhando sozinho.

Deus é comigo até o fim.

Dona das flores

Tu és dona das flores

Que trazes quando chegas

E que deixas quando vais.

És o jardim onde quero ser sepultado,

O cálice que faz-me vivo,

E tudo de melhor que tenho desfrutado.

Tu és a dona das flores,

Que rega-me sem pudores,

E até em teus espinhos

Não sangro: me curo.

Tu és a dona das flores,

Que explodem em uma miríade as cores

No meu coração, na minha alma,

Na terra que ofereço fecunda

Para nossos brotos ainda por nascer.

Rosas Brancas

Eu exagerava
Nas palavras que te dizia,
Em como te descrevia,
Mas havia um motivo:
Tudo relativo a ti
Era em mim exagerado.

Cada despedida,
Uma morte.
Cada abraço,
Uma ressurreição.

Tu eras um exagero em minha vida,
Daqueles que nunca são suficientes,
Que nunca são o bastante.
E ao mesmo tempo não eras vício,
Mas sim uma opção,
Que eu fazia e refazia,
Todos os dias.

As minhas intenções
E mesmo limitações,
Eram muitas e claras,
Porque eram óbvias
E eram a minha maneira
De dizer que eu –
Todo o meu eu –
Era todo teu.

Amei-te por amar-te,
Sem pensar ou teorizar,
Porque amando-te,
Descobri-me, despi-me,
Como nunca havia feito antes.

E hoje,
Nas andanças do tempo,
Todos os dias,
Guardo-te nos exageros
Também presentes
Nos jardins de minhas memórias,
Onde só brotam rosas brancas.

Em boa companhia

Ao andar sozinho

Percebi detalhes do caminho

Fui capaz de ouvir meus passos

Observar minha respiração

E o ritmo do meu coração:

Eu me senti

 

Ao andar sozinho

Passei por flores e espinhos

Becos, avenidas e praças

Do chão batido ao asfalto

Do sapê ao concreto, do aço à lata:

Eu senti o mundo

 

Ao andar sozinho

Provei todas as cores e temperos

Beijos e abraços intensos, insossos e acesos

Camas desarrumadas e fartura sobre as mesas

Tudo passageiro com retrogosto definitivo:

Eu senti o passar do tempo

 

Ao andar sozinho

Nada controlei ou antecipei

Nada esperei e muito recebi

E com o peito inundado pela esperança

Tornei-me da minha vida autor e protagonista:

Eu me reconheci.

Hão de florir

Na estrada
Que leva ao nada
Encontrei-te
A seguir

Na estrada
Que leva ao nada
Encontrei-te
E precisei partir

É porque preciso
Chegar
Ser
E estar
E na estrada
Que leva ao nada
Não posso existir

Mas se quiseres
Chegar
Ser
E estar
Abandona a estrada –
A mesma que leva ao nada –
E outros caminhos hão de florir.

Vim trazer verdades 5

Deixar de fazer algo por culpa ou medo é o equivalente a se negar a apreciar as flores por conta de eventuais espinhos. No fim, você fica sem as flores e sem os espinhos… Aliás, que espinhos? Quem disse que havia espinhos? O medo e a culpa são ótimos em criar problemas onde eles não existem.

De flor em flor

Desejando o bem

Sigo meus caminhos

E ainda que toda e cada rosa

Tenha seus espinhos

Gotas de sangue –

Imperceptíveis! –

Escorrem de meus dedos sem dor

 

Mas o perfume da flor

Ah! Esse sim é como o amor!

Maior do que tudo –

E ainda mesmo que seja tudo –

É único de flor em flor.

Rosa-vermelha_Black-beijo_Papel-de-Parede

Meu jardim

Nem sempre recebi de volta

As flores que gentilmente

E com muito amor

Ofereci

 

Mas a questão não é essa

E falo disso com um sorriso aberto

E sem pressa:

Eu preciso oferecer flores

Pois a minha vida é um imenso e inesgotável jardim

E nele planto amores

E colho flores

As mais lindas

As mais diversas

Pois são amores

À beça.

Árvore da vida

Fui ali

Colher os frutos de nossas promessas

Do que prometemos sem prometer

 

Vi a árvore majestosa que plantamos

Mais viva do que nunca

Flores, frutos a nascer

 

E que perfume!

Inebriante, pujante

Dilacerante processo de renascer

 

Frio na barriga

Causa para lá de resolvida

Embora se insista no sobrestamento do viver

 

Sim, a árvore da vida

Cura todas as feridas da lida

É o Norte para onde tudo há de correr

 

E seus frutos

Impávidos, atemporais e resolutos

São a razão e o motivo da própria existência do ser.

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