Travesseiro

Na tentativa de abafar
Com um travesseiro
Os gritos e gemidos
Que jorravam de sua boca
Em meio a todos aqueles aguaceiros
Acabou por se entregar
Ainda mais
Muito, muito mais
E fez rugir e estrondar
A cama, o quarto
E nossos corpos inteiros.

Partituramente

Durante um ano inteiro

Executamos a nossa música

 

Lembra?

 

Mais ou menos assim:

Eu te amo

Água na boca

Delícia

Saudades

Gemidos

Voz rouca

Cheiro, calor, sabor, comichão, sufoco

Só para economizar reticências!

 

Transcrita

Minha partitura

Minha mais essencial

E atemporal

Essência

 

Ao longe

A melodia

O ritmo

A harmonia

O clássico

O meio sem jeito

Mas acima de tudo

Pretérito

Presente

Futuro

Muito mais do que perfeito.

corpo

Minha culpa

Bela justificativa!

A culpa é sempre dela

Da maldita bebida

Para tudo que você fez

Para tudo que deixou de fazer

Para a total perdição

Para tudo que você finge esquecer

 

Parece-me, então

Que seria apropriado

Fazer do álcool algo diário

Um hábito salutar para a mente

Que mesmo sabendo da verdade

Para si mesma mente

Costumazmente

Costumaz mente

Como mente

 

Comi você

 

Estão aí as evidências

Nada disso se apagou:

As manchas no seu vestido

As marcas no teu corpo

O cheiro de quem aproveitou

Gota por gota

Lábio por lábio

Lambida por lambida

Gemidos de deixar rouca

A quem se deixou chamar

Por horas a fio

De puta

Safada

Mulher vulgar

 

A culpa foi minha

Mais fácil assim?

Eu pedi colo, confesso

E você prontamente me deu

O colo do seu útero

Onde não descansei

Onde apenas despejei

Todas as vezes que você quis

Tudo aquilo que você merece

 

Vai lá…

Tenta de novo…

Bebe…

Volta aqui…

Usa e abusa

Goza aos montes de verdade

E depois finge que esquece.

fingir