Na tentativa de abafar
Com um travesseiro
Os gritos e gemidos
Que jorravam de sua boca
Em meio a todos aqueles aguaceiros
Acabou por se entregar
Ainda mais
Muito, muito mais
E fez rugir e estrondar
A cama, o quarto
E nossos corpos inteiros.

Durante um ano inteiro
Executamos a nossa música
Lembra?
Mais ou menos assim:
…
Eu te amo
…
Água na boca
…
Delícia
…
Saudades
…
Gemidos
…
Voz rouca
…
Cheiro, calor, sabor, comichão, sufoco
Só para economizar reticências!
Transcrita
Minha partitura
Minha mais essencial
E atemporal
Essência
Ao longe
A melodia
O ritmo
A harmonia
O clássico
O meio sem jeito
Mas acima de tudo
Pretérito
Presente
Futuro
Muito mais do que perfeito.
Bela justificativa!
A culpa é sempre dela
Da maldita bebida
Para tudo que você fez
Para tudo que deixou de fazer
Para a total perdição
Para tudo que você finge esquecer
Parece-me, então
Que seria apropriado
Fazer do álcool algo diário
Um hábito salutar para a mente
Que mesmo sabendo da verdade
Para si mesma mente
Costumazmente
Costumaz mente
Como mente
Comi você
Estão aí as evidências
Nada disso se apagou:
As manchas no seu vestido
As marcas no teu corpo
O cheiro de quem aproveitou
Gota por gota
Lábio por lábio
Lambida por lambida
Gemidos de deixar rouca
A quem se deixou chamar
Por horas a fio
De puta
Safada
Mulher vulgar
A culpa foi minha
Mais fácil assim?
Eu pedi colo, confesso
E você prontamente me deu
O colo do seu útero
Onde não descansei
Onde apenas despejei
Todas as vezes que você quis
Tudo aquilo que você merece
Vai lá…
Tenta de novo…
Bebe…
Volta aqui…
Usa e abusa
Goza aos montes de verdade
E depois finge que esquece.