Que beijo!

Não me esqueci do nosso último beijo.
Não me esqueci dos nossos beijos.
Não me esqueci de você.

Procuro-o e não o acho
Em outras bocas que sentem
Que não sei o que estou fazendo ali.

Não era a mecânica:
Era a foda no beijo
Ou o beijo que virava foda
Não sei…
Acho que ninguém sabe.

Só sei que toda vez que penso em beijo –
Nos meus sonhos eu ainda te beijo –
Na minha boca só cabe você.

Entre elas

As pernas dela
Sempre cruzadas
Pura classe
Doce elegância
Que não respeito
Em pensamentos
Em momentos

Vejo me ali
Nas pernas
Entre elas
Percebido
Acolhido
Recebido
Molhado
Vivo

As palavras
Soam como fogo
As reticências
Me torturam
Já não sei
E por isso aceito
A falta do leito
Dos doces peitos
Das pernas
Dela
Só ela

Quem me dera
Fossem só as pernas
Quem me dera
Escutar entre elas
O que há de ser de nós
E ouvir a resposta
A mesa posta
O afinal

Lambuze-me.

Punas-me!

Silêncio…

Só consigo sentir os teus gemidos
Tuas coxas selaram meus ouvidos

Falar eu não consigo
E ainda assim com fúria te bendigo

Por que fazes isso comigo?

Teu ventre é um perigo
Mereço de fato este castigo?

Mereço
E pior do que isso:
Quero sempre mais

Punas-me!

Isso não, obrigado

Em 2001 ou 2002 (não lembro ao certo), eu alugava uma vaga de garagem que pertencia a Associação Brasileira de Sommeliers. A vaga ficava no mesmo edifício comercial em que eu trabalhava, e como a empresa para a qual eu trabalhava pagava o aluguel, melhor impossível.

Pelo menos uma vez por mês eu tinha que ir até a sala da ABS para pagar o aluguel e depois pedir o reembolso. Numa dessas, me deparei com um coquetel. Como eu estava de terno, parecia um convidado, mas na realidade eu só estava mesmo é cansado e louco para chegar em casa.

Após efetuar o pagamento, um senhor muito educado que eu não conhecia se aproximou de mim com uma taça de vinho, me oferecendo. Eu disse que estava de estômago vazio (não bebo de estômago vazio), e ele me ofereceu uns canapés. Aceitei. Bem gostosos por sinal.

Conversamos não lembro sobre o que, e ele insistiu para que eu provasse o tal vinho. Provei. Sabe quando você acha algo uma bosta? Pois bem… Ele me perguntou o que eu tinha achado, e eu gentilmente disse que não era exatamente algo que eu consumiria habitualmente. E então, ele soltou a seguinte pérola.

“É que seu paladar ainda não está preparado para apreciar bons vinhos.”

Bebi o que restava na taça para não fazer desfeita, e discretamente fui embora. Comprei uma Coca-Cola em uma lojinha que ficava embaixo do prédio e fui para casa.

No trajeto, pensando sobre o acontecido, aprendi a lição: se eu preciso me preparar ou ser preparado para dizer que uma coisa é boa, essa coisa não serve para mim. Eu tenho meus gostos, meus valores, minha personalidade, meu caráter. E se isso significa que devo caminhar sozinho em determinados momentos, estarei em excelente companhia.

Mais do que um trago

Algumas são únicas

Algumas são inesquecíveis

E algumas são apenas algumas

 

E as que não são algumas

As que são intensamente umas

Dessas não me esqueço –

Nem disfarço

 

Quer seja na garrafa suntuosa

Na nudez transparente do copo

Ou no detalhe fulgurante do trago

Destes rios me embebedo

Rios que sorvo sem pressa

Rios nos quais inevitavelmente deságuo

 

Dai-me agora mais uma –

Não alguma! –

Para que a minha sede se aplaque

Posto que estou em meio a um deserto

E tudo que eu achava que era certo

Dentro de mim já não cabe.

Não, obrigado! Sim, por favor!

A gente não procura

Mas ainda assim acha

E quando acha

Quer escapar

Tenta escapar

Até que chega ao ponto

De fingir

Que quer escapar

E acaba por se entregar

Como se não houvesse amanhã

(sempre há!)

 

E reclama!

Se culpa!

Fala que foi só um tropeço

Que nunca mais se repetirá

Mas a imagem está clara

O cheiro

O gosto

A quentura

O desejo

Tudo leva de volta para lá

 

E finalmente percebe

Com o passar dos dias –

Quanta agonia! –

Aos trancos e barrancos

No riso e no pranto

Que não dá para largar de vez

O café

 

E quando não é o café

É o amor

Que sem licença chega

E diz que é.

6199-Um-café-e-um..--A-Frase--

Ainda procuro

Ainda procuro aquele brilho

Que emana de seus olhos

Desde o dia em que eu te conheci

 

Ainda procuro aquele perfume

Aquele sorriso provocante

Eternidades

Nossas vidas por alguns instantes

 

Ainda procuro o nosso gosto

Procuro o nosso cheiro

Procuro seus braços

Pelo ânimo para levantar

Pela fragilidade para dormir

 

Ainda procuro aquela sensação

Aquela total falta de limite

Frio na barriga

Excesso e falta de apetite

Aquela vontade de estar para sempre ali

 

Ainda procuro lembranças

Doces, suaves

Esperança!

De estar e ser sempre por perto

Peito aberto

Todo mundo em nossas mãos

 

Ainda procuro…

Dia e noite, eu juro

Ainda procuro

Ainda te amo.

Maratonistas

Lembro-me da luz do sol

Invadindo nosso quarto

Por entre a cortina

Iluminando teu corpo nu

 

Lembro-me do meu corpo

Suado, também nu

Ainda ofegante

No mais completo e extravagante êxtase

 

Nosso cheiro embolado no ar

Roupa de cama molhada

Evidências incontestáveis

De fatos concretos, consumados

 

Teus cabelos bagunçados

Tuas pernas torneadas e meladas

Rios que de ti escorriam

Águas que criaste e levaste de mim

 

Lembro de te puxar-te pelos braços

Jogar-te de volta na cama

Provar novamente os nossos gostos

O mais puro e selvagem absinto

 

Lembro-me de visitar-te por dentro

Do céu da boca e de todos os outros lugares

E de novos rios intermináveis

Jorrando sobre nossos corpos lisos

 

Mas de tudo isso

Lembro-me ainda mais

Da delícia que é ser teu homem

E da delícia que é tu seres a minha mulher.

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