Atormenta

Repousa teus lábios nos lábios meus

E me deixa ver teu infinito.

Mostra os mares que são só teus

E as profundezas que eu agito.

Confessa os desejos que não são só meus

E admita que são infinitos.

Recebe teus mares com os mares meus:

Cala a minha boca, sente meus gritos.

E se…

E se você fosse

Deixada aos terrores da noite

Sem nada entender

Em uma encruzilhada da vida?

 

E se suas respostas

Virassem perguntas

E não houvesse ninguém

Sequer para ouvi-las?

 

E se aquele delicioso vinho

Suave e inebriante

Ficasse seco de repente

E tivesse que bebê-lo sozinha?

 

E se a cama vazia

Seca, inerte e nua

Com lençóis gélidos

Fosse unicamente sua?

 

E se suas lágrimas

Alcançassem o chão

Formando imensas poças

Antes que alguém tentasse entendê-las?

 

E se o seu grito dorido

Vomitado do peito

Fosse ignorado

Ou mesmo esquecido?

 

E se o seu nome

Repetido tantas vezes

Em tantos tons e texturas

Fosse completamente esquecido?

 

E se…

Você pudesse evitar tudo isso?

E se…

 

Eu não sei

Nem você

Espero que jamais saibamos

Espero que seja só um

E se.

gregos3

Ninguém

Quando eu era criança

Eu tinha medo de dizer as coisas

E agora que não tenho mais medo

Não há ouvidos para ouvi-las

 

Ninguém me ouve

Gritar não adianta

Ninguém me ouve

Ninguém

 

Talvez virar adulto seja isso

Ou talvez o mundo seja

Bem pior do que pode

Imaginar uma criança

 

Ninguém me ouve

Ninguém

 

Fui criança

Fui esperança

 

Ninguém me ouve

Ninguém

 

A solidão acompanhada

É a mais dura pena

Que pode ser imposta

A um ser humano

 

Quando ninguém me ouve

Eu me torno ninguém

Nem eu me ouço

Ninguém.

alone