Uma vez, antes de sumir no mundo, ela deu uma flor para minha mãe. Uma daquelas que vem em um vaso pequeno. Uma violeta. Ela quis agradecer a minha mãe por tê-la recebido em sua casa. A flor era cor de rosa, talvez arroxeada. Algo assim. Homens não costumam ser bons com cores.
Todo dia eu via minha mãe conversar com a tal flor. Nada de anormal. Ela sempre dava bom dia para as plantas da casa. Só que no caso dessa flor, eu sentia que era diferente. Como tinha sido um presente, a sensação que eu tinha era de que havia algo de especial entre as duas. Não sei explicar ao certo o que, mas sei que havia.
Confesso que eu passava ao lado da tal flor e pensava em joga-la no lixo. Só que quando eu chegava perto dela, eu simplesmente não tinha coragem. Não seria justo fazer nada contra ela, até porque eu sabia que ela havia sido dada de coração. Eu tinha certeza disso.
E os dias se passaram… As semanas se passaram… Os meses se passaram… Talvez uns 5 ou 6 meses. Eu não fazia ideia que uma flor dessas poderia durar tanto! E eu fui me acostumando… Não dava bom dia para ela, mas era uma lembrança que me fazia sorrir.
Um dia, porém, ao chegar perto de minha mãe, percebi que ela estava entristecida. Olhei para o vasinho e percebi que a flor estava seca. E eu perguntei o óbvio:
– O que houve com ela? Morreu?
E minha mãe me olhou nos olhos, colocou a mão no meu peito como só uma mãe sabe colocar, e me disse:
– Mas ela está viva aqui, bem dentro do seu coração.
E nesse dia, depois de tantos anos, eu finalmente descobri que meu coração era e é um jardim. E minhas lágrimas o regaram. Lágrimas represadas. Simplesmente lágrimas.
Depois disso, vi muitas flores. Há flores aqui e ali. É só saber procurar. Mas daquela flor, que sequer era minha, eu nunca mais me esqueci, e sei que, de alguma forma, ela ainda vive dentro de mim.

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