Minha comida

Eu tenho sonhos imensos
Desejos que nunca acabam
Vontades que nunca passam
A todo e qualquer momento

Se eu invento?
Não preciso e nem tento

A culpa é toda tua
Que o tempo todo desfilas nua
Na lascívia inexorável do meu pensamento

És da minha alma alimento
E eu te devoro
A todo e qualquer momento.

Tenta-me de novo – Hilda Hilst

E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama?
Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele Outro. E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.