Nas paredes do meu quarto
Sombras criadas pelas árvores
As mesmas que me viram nascer
E que agora encenam, coreografam
Diante do olhar atento da Lua cheia
Histórias histéricas de prazer
Sob a direção da ventania
E de chuva que se inicia
Forma-se espetáculos magníficos
Que em algumas noites
Na vastidão destas algumas noites
Já foram para lá de horríficos
Depravados e torturantes
Não hoje; hoje não!
Resignadamente eu imploro…
O pulso acelera
O espetáculo na memória reverbera
A respiração ofegante
O suor ácido e borbulhante
Sangue abundante
Causticante
Que faz com que o eu homem
Se transforme no eu besta, fera
Maldita maldição!
Já não tenho mais controle
Sobre tal situação
Sou pura vingança, pavor
Ódio e desamor
Sedento por um coração
Que bate sem comiseração
E invoca minha destemperança
Maldita maldição!
Que uma bala de prata
Risque a noite
E transfixie meu coração
Que me liberte dessa prisão
Eis que diante da morte
Sinto da vida a maior sorte
Se amar é maldição
Rogo pela minha completa extinção
E pela manhã
De volta a minha cama
Roto, puro desgosto
Ainda vivo
Ferimentos que não se curam
Sangue que não se esvai
Dor que de mim não sai
Penso que deve ser assim
Este pejo que recai sobre mim
Perdoa-me, Deus…
Por todos os meus pecados
De ontem, de hoje, e de amanhã
Até que dessa vida eu possa dizer adeus.