O Louco – Khalil Gibran

Perguntais-me como me tornei louco. Aconteceu assim:

Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas – as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas – e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente gritando:

“Ladrões, ladrões, malditos ladrões!”

Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim. E quando cheguei à praça do mercado, um rapaz no cimo do telhado de uma casa gritou:

“É um louco!” Olhei para cima, para vê-lo.

O sol beijou pela primeira vez a minha face nua.

Pela primeira vez, o sol beijava a minha face nua, e a minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais as minhas máscaras.

E, como num transe, gritei:

“Benditos, benditos os ladrões que roubaram as minhas máscaras!”

Assim tornei-me louco.

E encontrei tanta liberdade como segurança na minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós.

O retorno

Meu corpo te diz adeus,
Sem palavras, casualmente,
Sem a força de quem diz que vai
Esperando o momento da volta,
Como corpo que espera o coração bater.

E eu que tanto te quis,
Me olho assustado, surpreso,
Para onde foi todo aquele desejo?
Onde está o nosso último beijo?
Eu não sei. Eu não sei.

Só sei que sou agora o mesmo de antes,
De antes de te conhecer.
Puro, sincero, verdadeiro,
Forte, destemido, louco pelo cheiro
Da vida, do amor, de Deus.

Ah! Meus amigos voltaram,
Voltou a paz da incerteza do destino,
Voltou a luta diária pelo pão de cada dia,
Voltou aquela menina da rua que me sorria,
Voltou tudo, ou melhor, eu voltei.

É, agora eu me pergunto,
Será que por um breve período enlouqueci?
Tenho certeza que não!
Foi coisa do coração:
Coisa que dá e passa.

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