O armário

Vocês tem medo deste armário?

Estou dormindo ao lado dele durante o Carnaval. Percebem que um morto pode facilmente puxar a cortininha e mostrar o rosto do nada? Certeza que há cadáveres ali!!!!!!

#medo #terror

Agora

Se não sentires vontade de falar comigo quando Morfeu te devolve ao mundo ou mesmo quando ele se prepara para novamente receber-te, vai-te embora.

Se a músicas que ouvimos tantas e tantas vezes juntos não te remetem aos inúmeros pequenos e grandes momentos que vivemos juntos, vai-te embora.

Se a calor do sol que esquenta a tua pele não fizer com que te lembres de todas as loucuras que já vivemos na cama (e em outros lugares também), vai-te embora.

Se os aromas e gostos que tanto nos diziam não forem capazes de fazer com sintas frio na barriga ou arrepios na pele, vai-te embora.

Se eu não estiver na lista daqueles que surgem na tua mente quando estás com um problema ou simplesmente porque precisas desabafar, vai-te embora.

Talvez eu implore para que fiques. Vai me doer, vai me fazer sangrar, mas insisto: vai-te embora.

Porque há muito mais no mundo esperando por mim. Eu sei que há, pois já passei por isso antes. Talvez passe por isso novamente. Eu não sei. Só vai-te embora, porque é chegada a minha hora e a nossa hora morreu de inanição.

Mas acima de tudo, vai-te embora, porque não preciso da tua pena. Não preciso da tua misericórdia. Não preciso da tua caridade, porque sei que ainda que eu caia, jamais ficarei no chão. A verdade não é capaz de me matar. Nunca será.

E se assim for, vai-te embora, porque a tua presença impede o milagre do porvir e de tudo que preciso para viver e me sentir vivo.

Eu quero tudo e quero muito. E quero agora, porque eu vivo e sou o agora.

E agora, vai-te embora. Sem demora. Há pressa diante do que a vida ainda tem para mim.

Autossabotagem

E se…
Vai que…
Quem sabe?
Será?
Talvez…

No mundo das escolhas,
No palco das ilusões,
No futuro que se altera
Diante do sim e do não,
A vida segue resoluta,
Diante da amarga autossabotagem
Que é não tomada de uma decisão.

Qualquer coisa
É só culpar o destino
E deixar tudo por isso mesmo:
Café frio sobre a mesa
Adoçado com lágrimas ácidas e salgadas
Que brotam do coração.

A felicidade dá medo;
Todo o resto não.

Uma carta para você

Tudo bem com você?

Não! Você não fez nenhuma escolha errada.

Aliás, quem disse que você tem escolha?

Nunca agiu de maneira contrária a seus próprios interesses, não é mesmo?

Deixe-me rir!

Você é sujeito passivo da sua existência.

Eu comando, mando e desmando na sua vida.

Eu sou seu “anjo da guarda”.

Eu sei o que é melhor para você.

Você não é nada e eu sou tudo.

Aceite as coisas como são sem questiona-las.

E se tudo der errado, culpe tudo e todos.

Culpe as circunstâncias, o tempo, seus pais, sua infância.

Creia que é Deus é o mandante dos seus infortúnios.

Você simplesmente não tem saída.

É preciso aceitar todas as imposições de quem quer que seja.

Jamais questione-se ou questione o status quo.

Porque você não tem valor algum.

E para garantir isso, preencho sua vida com medo e culpa todos os dias.

Crio falsos dilemas morais.

Deixo você cego, surdo e mudo.

Removo qualquer resquício de bravura e coragem que um dia você já teve.

Escute-me!!!

Ser feliz é impossível. Nem ouse tentar!

Jamais acredite que você pode mudar o seu destino.

Você realmente não pode e nem deve.

Eu agradeço.

Confie em mim.

Abraços,

Seu inconsciente

Abraço-me

Descobri que és diferente
Quando tocaste nas feridas
Da minha alma e do meu coração
Sem perguntar se as lesões
Foram autoinfligidas

Sim…
A insistência
A carência
A teimosia
A imaturidade
A inocência
A vaidade
A arrogância
O apego
O desespero
O desamor
O pânico
O medo
A raiva
A humilhação
A solidão

Eu me feri
Eu me machuquei
Tudo doeu
Muito sangrou

Eu me crucifiquei
E nem mesmo de mim me salvei
E agora eu sei:
Dor não se cura com mais dor.

Descobri que és diferente
Porque me mostraste
Que posso lamber minhas feridas
E seguir em frente
Fazer diferente
Porque és diferente
E diferente –
Agora que me lembro
Do que eu já fui –
Eu também já sou.

Eu me perdoo
Eu me abraço
E por isso eu sigo em frente.

Intuição

– Eu sei, mas você precisa fazer uma escolha. A gente não pode ficar nessa para sempre, concorda? – os olhos dele estavam fixos no horizonte. Ao fundo, as nuvens cinzentas por sobre a praia davam um tom de mistério aquela conversa difícil e necessária, ao menos para ele. O tom de sua voz era suave, mas também era firme. Ele precisava de algumas respostas, bem óbvias e ao mesmo tempo essenciais. Ela parecia não se dar conta disso.

– Eu não sei o que dizer… – ela fitava o chão enquanto respondia. Os braços estavam cruzados. O corpo todo retesado. Sua mente girava diante das incertezas que se agigantavam dentro dela. “Eu não sei… Eu não sei… Eu não sei… ” Era tudo que ela conseguia dizer no momento. Tinha plena noção do quanto estava insegura por conta de seu último relacionamento. Pensar em viver algo tão doloroso novamente simplesmente a paralisava. Ela não conseguia pensar em recomeços. Ainda estava sendo açoitada pelo fim.

– Bom… Isso para mim é uma resposta. Não vou insistir mais, apesar de gostar muito de você. A gente se esbarra por aí. Qualquer coisa, me liga.

Ela ainda tentou dizer algo, mas ele já estava com os fones no ouvido. Já tinha a resposta que precisava. Ficou decepcionado, mas engoliu a verdade em seco de uma só vez. Foi embora sem olhar para trás.

Chegou em casa e foi tomar um banho. Se serviu com um pouco de água de coco e pegou o telefone. A indecisão dela era uma decisão na visão dele. “Já passei por isso antes e aprendi a lição”, disse para si mesmo diante do espelho, fazendo força para acreditar em suas próprias palavras. Por conta disso, até para provar que era capaz de esquecer tudo aquilo, resolveu responder a uma mensagem que recebera mais cedo no WhatsApp.

“Oi! Tudo bem? Ainda está valendo o convite?”

A resposta veio em menos de 30 segundos.

“Sim! Faz tempo que não como aquela pizza! Você me encontra lá em 1 hora?”

“Com certeza! Bjs!”

Ela mandou um coração de volta. Ele sorriu.

Foi um sorriso conflitante, hipócrita. Um sorriso de quem sabia que não precisaria passar a noite sozinho, mas que também sabia que não era com aquela mulher que ele gostaria de estar. Na prática, ele estava fugindo deste e de outros encontros. Apesar de não estar oficialmente namorando, não gostava de sair com mais de uma mulher ao mesmo tempo. Era algo dele. O seu coração era assim. Ele era assim. “Pelo menos ela foi sincera. Logo, caminho aberto para a próxima. Para as próximas.” Nem ele mesmo acreditava em suas palavras.

Se encontraram no restaurante como combinado. Ela tinha um olhar de femme fatale. Na cabeça dele, ela era uma devoradora de homens. Ele seria apenas mais um. Ele via isso como algo bom: nenhuma expectativa é o equivalente a nenhuma frustração.

– Então… – ela disse – Finalmente resolveu atender ao meu convite… Eu já estava quase desistindo.

– Nada… Só estava meio atarefado – os olhos dele estavam dentro do decote dela. Era impossível não notar a fartura daqueles seios.

– Aposto que tem a ver com a sua namorada… Como é mesmo o nome dela? – o tom da voz dela era de deboche.

– Eu não tenho namorada. E eu não estaria aqui se tivesse uma. Vamos beber o quê?

Apesar dele não ter namorada, o comentário mexeu com ele. “Eu não tenho namorada, mas gosto de uma pessoa. Isso vai muito além de um título ou estado civil “, pensou.

– Eu tenho uma sugestão. A gente come algo mais leve… Tipo uma burrata. E depois a gente vai para um lugar mais calmo. Pode ser?

– O quê? – ele estava olhando para o cardápio enquanto ouviu o convite. Ficou olhando para ela como se não estivesse entendendo nada, muito embora fosse capaz de compreender exatamente o que estava acontecendo.

– Deixa disso… Faz 3 meses que quero sair com você. Olha a nossa idade… Não vamos perder tempo com formalidades, vai…

– Mas e a pizza? Eu estou com fome! Eu quero comer pizza! Garçom, quero uma burrata. Qual pizza você me recomenda? Sim! Pode ser essa! Deve ser deliciosa! Tudo bem com você se eu pedir essa? Ok. E o vinho vai ser… Aquele ali da outra mesa. O que aquele pessoal está bebendo…

A cardápio virou a sua tábua de salvação. Lembrou da série Seinfeld e das argumentações absurdas entre os personagens. Era assim que ele estava se sentindo.

Eles riram muito durante o jantar. Comeram a burrata, tomaram vinho, comeram pizza… Teve até sobremesa! Ela ainda insistiu algumas vezes no “a gente vai para um lugar mais calmo”. Ele insistiu nas desculpas no maior estilo Seinfeld. Em alguns momentos, teve até vontade de rir. Quem sabe em outros tempos, em outro lugar. Quem diria não para essa mulher? Ele disse da forma mais educada que conseguiu. Afinal de contas, nunca se sabe do futuro.

Despediram-se. Nada de “até manhã” ou “depois a gente se fala”. Ela foi para a casa dela. Ele foi para a casa dele. Se ela ficou chateada, ele não percebeu. Se sentiu bem por ter sido fiel a seus sentimentos e isso não tinha preço.

Ele ligou a TV e resolveu verificar as suas mensagens no WhatsApp. Uma delas dizia:

“Pensei muito na nossa conversa de hoje de tarde. Eu estou gostando de você e isso me deixa insegura. Sei que você não tem obrigação de entender isso. Me liga quando puder.”

Ao invés de responder à mensagem, preferiu ligar. Já eram 3 horas da manhã. Ela atendeu com voz de sono já pedindo desculpas.

– Eu queria me desculpar pelo que te disse hoje na praia…

– Eu que deveria pedir desculpas pelo ultimato… – disse ele interrompendo-a com delicadeza.

– Digamos que seu ultimato me fez perceber algumas coisas… Sendo uma delas que não estou disposta a ficar longe de você – sua voz era um misto de malícia e sensualidade. Ela estava se confessando e pelo que ele sabia dela, falar de sentimentos era algo que ela realmente tinha dificuldades em fazer.

– Quer dizer que ultimatos funcionam, professora? – o comentário sarcástico a fez rir justamente por conta dela ser formada em Relações Internacionais e ministrar aulas sobre o tema.

– Depende… – a risada veio acompanhada de uma explicação – Desde que a outra parte não entenda como um blefe e não esteja disposta a encerrar as conversações, funciona sim.

– Eu não estava blefando.

– Eu sei.

Imediatamente, ele foi até a geladeira e abriu uma garrafa de espumante. Ele precisava comemorar. Em ambos os casos, em episódios completamente distintos, seguiu a sua intuição e ouviu o seu coração. Na praia, foi embora no momento certo. Na restaurante, foi fiel a seus sentimentos. Sentiu orgulho de si mesmo. Sorriu.

Os dois dormiram juntos em casas separadas naquela noite. As negociações avançariam pela manhã. Diplomatas em missão de paz, por assim dizer. A esperança parecia estar vencendo o medo.

E a pizza? A pizza estava deliciosa. A vida estava deliciosa.

Crisol

O que eu procurava
Em mim já existia
E se transformava em poesia
A todo instante

Um universo inteiro
A lua e o sol
Na vida um crisol
De tudo que é verdadeiro

Vivos e gritantes
Os abraços e os beijos
As paixões e os desejos
As taças que já bebi

Todas as minhas vísceras
As tristezas e os medos
As confissões e os segredos
O amálgama de mim

Era essa a minha loucura
Procurar o que eu já tinha
O que em mim se aninha
O que estou disposto a oferecer

É tudo gratuito
Pois nada tem preço
Porque tudo que ofereço
É porque só sei ser assim.