Muito eu vi(vi)

Eu vi a birra da criança

Eu vi os escorregadores e os balanços

Eu vi os cachorros rolando na grama

Eu vi o senhor e seus passarinhos

Eu vi as flores e as cutias

Eu vi o casal se beijando ardentemente

Eu vi o pipoqueiro e seu carrinho

Eu vi o coreto e a igreja matriz

Eu vi o moço que vende balas e balões

Eu vi o lago e os peixinhos.

E ali, bem ali

Bem no meio daquele campo

Eu revivi a minha infância

Cheio de saudades de quem deste mundo

Já se foi sem mim.

Campo de São Bento – Niterói/RJ

Deserto de sal

Admito que não foi fácil.

Havia tantas histórias,
Tantas memórias,
E tudo o que eu mais tentava esquecer
Era justamente tudo que me fazia lembrar.

Aprendi que tentar esquecer
É o mesmo que reconhecer
Que algo é inesquecível.

Desisti.

Vez ou outra,
As lembranças ainda me chegam
Feito ondas do mar,
Que me molham da cabeça aos pés.
Vejo-me em mergulhos profundos no que já fui,
Mas que a vida disse para eu não mais ser.

Talvez um dia o mar seque.
Talvez um dia tudo seque.
Já lamentei tudo isso,
Mas talvez tenha que ser assim:
Um deserto de sal,
Com toneladas e toneladas de sal despejadas
Por mãos que nunca pertenceram a mim.

Rosas Brancas

Eu exagerava
Nas palavras que te dizia,
Em como te descrevia,
Mas havia um motivo:
Tudo relativo a ti
Era em mim exagerado.

Cada despedida,
Uma morte.
Cada abraço,
Uma ressurreição.

Tu eras um exagero em minha vida,
Daqueles que nunca são suficientes,
Que nunca são o bastante.
E ao mesmo tempo não eras vício,
Mas sim uma opção,
Que eu fazia e refazia,
Todos os dias.

As minhas intenções
E mesmo limitações,
Eram muitas e claras,
Porque eram óbvias
E eram a minha maneira
De dizer que eu –
Todo o meu eu –
Era todo teu.

Amei-te por amar-te,
Sem pensar ou teorizar,
Porque amando-te,
Descobri-me, despi-me,
Como nunca havia feito antes.

E hoje,
Nas andanças do tempo,
Todos os dias,
Guardo-te nos exageros
Também presentes
Nos jardins de minhas memórias,
Onde só brotam rosas brancas.

Feliz demais

Há dias a minha frente
Há dias fantásticos as minhas costas
E no hoje, no amanhã e no ontem
Há invariavelmente você.

Ainda não consigo acreditar nas pessoas
Os “eu gosto de você” e até mesmo os “eu te amo”
Me assustam de uma forma que não sei explicar
Eu tenho medo, muito, muito medo.

Tenho preferido ficar só
Porque sozinho só há eu mesmo para me ferir
Nenhuma esperança, nenhuma expectativa
Vazios enormes que não pretendo preencher.

Passei a acreditar que só se vive um grande amor
Um único, um eterno amor que ama amar
Que ama tudo que com este amor veio
E que não sabe para onde ir quando este amor se vai.

Amo ver casais se amando no restaurantes e bares
Ou em uma simples caminhada na praia
Porque eu já senti, me pareci e vivi como eles
Hoje, não mais, não mais. Infelizmente.

Talvez eu me torne um conselheiro amoroso
Para que outros vivam o que eu já vivi
Foi tudo, a melhor parte da minha vida
E por isso agradeço a Deus todos os dias.

Neste sentido, minha vida faz todo o sentido
Porque sou testemunha do que o amor pode causar
Saudade profunda da mais simples rotina
Até da chama que queimava dentro de meu peito.

Talvez hoje eu não durma só (não é uma afirmação)
Mas eu sei que continuo sozinho
Eu te vejo e te sinto em outras bocas e outros corpos
E tenho nojo de mim quando me flagro fazendo isso.

Este texto é despretensioso, porém sincero
Para falar de mim e não mais de nós
Amo as lembrancas que de você eu tenho
Eu já fui feliz, muito, muito, muito, muito feliz, feliz demais.

Vim trazer verdades 51

Após o fim de um relacionamento, ficam as coisas ruins e tristes que impedem a reconciliação, e também as coisas boas que de alguma forma parecem impossíveis de serem vividas novamente.

As coisas ruins e tristes são processadas e esquecidas com o tempo. Já as coisas boas… Com o tempo, são guardadas na lista de boas memórias, com muito carinho, para que a vida siga em frente.

Eu, peregrino

Só temos o agora,
Deixa a ansiedade lá fora,
Deixa vir o destino.

Quiçá ele é nosso?
E é justamente por isso
Que eu não procrastino.

Ainda que só por hoje,
Teu ventre é o cálice
Para onde eu peregrino.

Na pior das hipóteses,
Memórias, histórias,
Desvairado desatino.

Que beijo!

Não me esqueci do nosso último beijo.
Não me esqueci dos nossos beijos.
Não me esqueci de você.

Procuro-o e não o acho
Em outras bocas que sentem
Que não sei o que estou fazendo ali.

Não era a mecânica:
Era a foda no beijo
Ou o beijo que virava foda
Não sei…
Acho que ninguém sabe.

Só sei que toda vez que penso em beijo –
Nos meus sonhos eu ainda te beijo –
Na minha boca só cabe você.

Na minha janela

Sexta-feira

E eu aqui

Olhando-me por dentro

Nos detalhes

A saudade se torna mais agressiva ainda

 

Encontro o vinho

O queijo

O café

Memórias que apertam o peito

Um coração que grita

Um coração em chamas

Que chama

 

A minha folia é ficar quieto

Procurando algum silêncio

Para ouvir meu eu

Ora inaudível

Em demasia quieto

 

Revejo aquela foto

Aquela poesia

Aquela música

Revivo cada segundo

Pois todos os segundos

Ficaram impressos na minha alma

 

E por fim

Fixo meu olhar em uma estrela

Meu corpo se arrepia

Meu coração acelera

Sei que é você

Brilhando e adentrando

A minha sempre aberta janela.

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Vendo os sinais

E eu vi ali

Naquele passarinho

Que parecia não ter ninho

O que eu queria ser

 

Voar alto

Enxergar longe

Bem além de onde o sol se esconde

Quando chega a hora de dormir

 

E assim, cresci

Voei de mim

E percebi que sou sem fim

Sou sempre recomeço

 

Essas pequenas coisas

Que não tem preço

Dentro do meu coração as aqueço

Sempre as levo comigo

 

Meu passarinho amigo

Mensageiro do infinito

És o universo ouvindo meu grito

O amor florescendo do meu avesso.

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