“Eu sou responsável pelo que eu falo, não pelo que você entende.”
Já vi esta frase ser mencionada em todos os contextos possíveis (relação pessoais e profissionais), e minha reação sempre foi de questionar se as pessoas estão se dando conta do seu real significado.
Por que uma pessoa fala com a outra? Para passar uma mensagem. Ainda que seja uma ordem ou um comando, continua sendo uma mensagem. E sendo uma mensagem, precisa ser entendida ou mesmo decodificada pelo receptor da mesma. E isso nos leva ao conceito de comunicação.
“A comunicação (do latim communicatio.onis,[1] que significa “ação de participar”) é um processo que envolve a troca de informações entre dois ou mais interlocutores por meio de signos e regras semióticas mutuamente entendíveis. Trata-se de um processo social primário,[2] que permite criar e interpretar mensagens que provocam uma resposta.[3]” – Fonte: Wikipedia
Logo, se eu me preocupo apenas com o que eu falo e não com o entendimento do outro sobre o que eu falo, eu não estou me comunicando! É tão simples quanto isso. Vou usar alguns exemplos para ilustrar o meu ponto.
1 – Dinâmica de grupo – Participei de um “telefone sem fio” em um ambiente empresarial logo no início de minha carreira. O objetivo era que o primeiro de um grupo de 30 pessoas dissesse em segredo uma frase para segundo, que por sua vez diria a frase em segredo para o terceiro (e assim sucessivamente), até que a frase chegasse até o trigésimo participante. A frase deveria chegar até o último participante transmitindo pelo menos a mesma mensagem (não necessariamente utilizando as mesmas palavras). O resultado? O sujeito da frase, que era um cachorro, não chegou até o trigésimo participante. A frase que chegou para a última pessoa era sobre uma casa!
2 – “Se Deus quiser” – Tive a oportunidade de trabalhar com diversas culturas. No mundo ocidental, mais ainda no Brasil, a frase mais quase como uma torcida para que uma determinada coisa aconteça. Exemplo: “Se Deus quiser, vou passar na prova.” A pessoa se sente no direito de falar isso mesmo sem ter aberto um livro sequer. Já no Oriente Médio, significa que a coisa só não vai acontecer se Deus não permitir. Quando se diz Insha’Allah (se Deus quiser em árabe), a lógica por detrás é de que tudo que for possível no mundo material será feito, restando a Deus a palavra final, o direito ao veto. Portanto, duas pessoas falando “se Deus quiser” podem estar dizendo duas coisas completamente diferentes.
Percebem o tamanho do problema? Acrescentem a isso a linguagem corporal, o tom da voz, a janela de oportunidade (tempo), a predisposição da pessoa para conversar, o estado emocional e até mesmo o ambiente onde a conversa ocorre, e temos uma série de variáveis que podem gerar ruído na comunicação, tornando-a ineficaz e até mesmo contraproducente.
Nem de longe quero escrever um tratado sobre comunicação, mas acho importante chamar a atenção para o assunto. Em tempos em que as pessoas se comunicam cada vez de maneira mais assíncrona (mensagens de WhatsApp, por exemplo), garantir que as conversas sejam produtivas é algo ainda mais desafiador.
Portanto, para quem quer se comunicar adequadamente, a frase que mencionei no início do texto deve ser esquecida ou refeita. A frase, na minha opinião, deveria ser algo como:
“Eu sou responsável pelo que eu falo e também pelo que você entende.”
Concordou? Não concordou? Os comentários estão abertos e eles são sempre muito bem-vindos.
Até a próxima! 🙂
