Vim trazer verdades 60

Quando sorrimos para Deus, Deus nos sorri de volta.

2023-01-10 – 17:25:00 GMT-3 – Niteroi/RJ – Brazil

Muito eu vi(vi)

Eu vi a birra da criança

Eu vi os escorregadores e os balanços

Eu vi os cachorros rolando na grama

Eu vi o senhor e seus passarinhos

Eu vi as flores e as cutias

Eu vi o casal se beijando ardentemente

Eu vi o pipoqueiro e seu carrinho

Eu vi o coreto e a igreja matriz

Eu vi o moço que vende balas e balões

Eu vi o lago e os peixinhos.

E ali, bem ali

Bem no meio daquele campo

Eu revivi a minha infância

Cheio de saudades de quem deste mundo

Já se foi sem mim.

Campo de São Bento – Niterói/RJ

O bem aquece a vida

No Centro de Niterói/RJ, durante a década de 1970, meu avô saía de casa aflito todas as vezes que chovia e ventava muito forte. Ele saía com uma caixa de papelão nas mãos, e um dia me chamou para ir com ele (para o desespero da minha mãe, pois eu era muito novo).

Fomos em direção à casa que abrigava a prefeitura na época, que era completamente cercada por árvores enormes. Diante delas, vi meu avô se abaixando e recolhendo o que pareciam ser pequenos frutos das árvores. Não eram. Eram pequenos pardais desfalecidos por conta da tempestade.

Então, já com a caixa cheia dos pequenos pássaros, meu avô voltou para casa, cobriu a caixa com um cobertor e a colocou no forno, em temperatura bem baixa e com a porta aberta. Instantes depois, meu avô retirou a caixa do forno e eu comecei a ouvir inúmeros e intensos piados. Quando a chuva passou, meu avô retirou o cobertor de cima da caixa, bem perto da janela da cozinha, e dezenas de passarinhos fortes e aquecidos, voaram pela janela em direção ao infinito, em direção à vida.

Aprendi ali com meu avô, bem cedo, que mesmo sem que um pardal lembrasse do meu avô ou se mostrasse minimamente grato a ele, o prazer de ver os pardais voltarem a voar significava para ele absolutamente tudo. Ele praticava o bem e o bem era a sua própria recompensa. Era evidente nos seus olhos e no sorriso que esbanjava para si mesmo.

Que nossos corações e nossas atitudes sejam como a caixa, o cobertor e o forno do meu avô. E que possamos fazer o bem sem esperar nada de ninguém, na certeza de que ver o outro se levantar diante de uma dificuldade é um dos mais sublimes experiências que podemos ter na vida.

Saudades de ti, Afonso Fonseca, meu adorável e inesquecível avô. Obrigado por ter me ensinado tantas e tantas vezes o que verdadeiramente vale a pena na vida.

Vitrificado

Fascinam-me os pássaros,
Flutuando ao lado da ponte
Sem precisar bater suas asas
À mercê da magia do vento.

Fascina-me a ponte
Que serve de refúgio aos pássaros
Imponente diante da paisagem
À mercê da magia do tempo.

Fascino-me eu comigo,
Diante dos pássaros e da ponte
Diante do vitrificado horizonte
À mercê de Deus adiante eu sigo.

Vim trazer verdades 55

Acreditar em Deus parece impossível para algumas pessoas, porque elas partem da lógica humana para tentar desvendar e entender o que é divino, e que justamente por isso pelo próprio homem não pode ser compreendido ou definido.

Parque da Cidade – Niterói/RJ

Uma subida extenuante (pode ser feita de carro, mas perde e graça) para alcançar esse paraíso com temperatura de 18⁰ C (versus 24⁰ C na beira da praia) e uma vista absolutamente maravilhosa, que seria de 360⁰ não fossem as árvores (e que as árvores continuem por lá).

Mais do que recomendo a visita, quer seja para pular de asa delta/parapente, fazer exercícios/trilhas, tomar uma cerveja, comer no bistrô, passear com as crianças… Enfim… Curtir a vida. É simplesmente sensacional! 🙂

De quebra, fui novamente na Praia de Camboinhas e Deus me deu esses presente: uma coruja fazendo pose para foto!

Foi ou não foi um sábado mais do que abençoado? Obrigado, Deus!!! 🥰🥰🥰

Praia de Camboinhas

Fica em Niterói, cidade do Estado do Rio de Janeiro, terra onde eu nasci. Leva esse nome por conta de um navio cargueiro que encalhou na praia. Maiores detalhes aqui.

Mas nem é esse o motivo desse post. Há tempos que eu não ia nessa praia, e no final de semana passado tive a chance de matar as saudades. Foi um reencontro, digamos assim. Deus me brindou com um dia lindo, que foi registrado em uma fotografia que mais parece uma pintura.

Ao fundo, o Pão de Açúcar e o Cristo Redentor vistos de fora da Baía de Guanabara, de um ângulo pouco conhecido pelos cariocas (tecnicamente, niteroienses não são cariocas – são fluminenses). Aliás, dizem que a melhor coisa de Niterói é a vista para a cidade do Rio de Janeiro. Eu não concordo, mas também não discordo… Há como discordar vendo essa fotografia?

Era só isso mesmo. E na vitrola, não poderia ser outra música…

Flashbacks

O tempo quente de mais uma tarde escaldante em Niterói tornava quase impossível uma caminhada no fim de tarde. O suor ardia os olhos. As lentes dos óculos embaçavam. A respiração ofegante do passo acelerado era sufocada por uma máscara. E para piorar, as pessoas não conseguiam andar em linha reta, pois as bicicletas, cachorros e corredores estavam sempre na iminência de causar um acidente. Caos no calçadão da Praia de Icaraí. Puro caos.

Eu a vi de longe conversando com um homem alto, queimado de praia. Resolvi frear meu passo. Eu não sabia quem era e não queria ser invasivo.

– Vem cá, Fabio! Deixa eu te apresentar… Esse é o Guilherme. Guilherme, esse é o Fabio.

Pensei em estender as mãos para um cumprimento, mas isso não seria aceitável em tempos de pandemia. Com a máscara no rosto, sequer conseguia sorrir para dizer algo do tipo “prazer em te conhecer”. Tive que apelar para o “Fala, Guilherme! Beleza?” Ele respondeu de maneira educada e alegre, me convidando para jogar uma partida de tênis de praia. Eu falei que já tinha jogado tênis tradicional e disse que minha filha já tinha pensado em fazer aulas na praia, mas declinei educadamente o convite. “Quem sabe outro dia?”, ele disse. Para minha surpresa, ele chamou um professor (sim, há aulas de tênis de praia na Praia Icaraí) que me entregou um cartão oferecendo suas aulas. Quando ficou sabendo do interesse da minha filha, disse até que ela poderia fazer aulas de cortesia por conta de eu ser “amigo do Guilherme”. Não entendi nada, mas agradeci pela gentileza. Coisa difícil nos tempos de hoje.

Era visível que ela tinha bastante intimidade com o Guilherme. Isso não me incomodava de forma alguma, mas percebi que eles estavam falando sobre um assunto sério. Preferi prestar atenção em um jogo de tênis de praia que estava em andamento. Não tinha nenhum bobo jogando. O nível era bem alto por sinal. Era visível que jogavam com frequência.

Após alguns instantes, ela se despediu do Guilherme e eu acenei. Mais uma vez, ele me convidou para aparecer lá outro dia e apontou para a minha pele: “Você está precisando de Vitamina D!” Soltei uma risada e fomos caminhando. Ele tinha razão. Eu estava precisando de uma cor.

– Gente boa esse cara… Quem é o seu amigo? – perguntei de maneira inocente.

– É meu ex-marido. E sim, ele é muito gente boa.

Fiquei em silêncio. Passou um flashback pela minha cabeça sobre o meu divórcio. Ela não se deu conta, mas eu a invejei por alguns instantes. No fundo, queria que meu casamento tivesse terminado assim, mas sei que não há regras quando o assunto é uma separação. Há pessoas mais maduras, outras menos maduras e… FODA-SE. Eu estava feliz do jeito que eu estava e isso bastava para mim.

– Qual a altura dele?

– 1,92 ou 1,93. Algo assim.

– E agora você dá para um cara com a mesma altura que você? – perguntei sem fazer ideia de qual seria a resposta dela.

– Mesma altura coisa nenhuma! Tecnicamente, eu sou 2 cm mais alta que você. Se eu colocar um salto então… E sim, eu dou para você. Dou com vontade. E altura não é tudo, bobinho, até porque não te chamo para trocar as lâmpadas da minha casa…

Creio que não preciso mencionar o quanto me senti poderoso após ouvi-la. “Eu realmente devo ter os meus paranauês”, pensei.

Chegamos até o prédio dela. O porteiro já sabia o meu nome. Entregou uma encomenda que a aguardava e abriu a porta do elevador. Ela pediu para eu apertar o botão do andar, pois estava com as mãos ocupadas carregando a tal encomenda. Meti as mãos entre as suas pernas e perguntei: “Esse?” Ela deu uma risada e apontou com o rosto para uma câmera dentro do elevador. Eu acenei para a câmera. Pura palhaçada! Rimos juntos. O sorriso dela era aberto, franco, e eu obviamente me ofereci para carregar a encomenda. Cavalheirismo sempre.

– Quer água de coco? – ela me perguntou já se servindo.

– Quero uma cerveja. Tem?

Ela me ofereceu uma Heineken e eu comecei a falar sobre o poder da cerveja na recuperação pós treino, e que os jogadores do Bayern de Munique eram obrigados a beber todos os dias. Pequenas quantidades, claro.

– Deixa eu ver se eu entendi… Você anda, anda, anda e depois toma cerveja para sua plena recuperação pós treino? Você é muito cara de pau!

– Mas é científico! – eu exclamei em minha defesa, fingindo estar indignado.

– E quem disse que seu treino acabou? Pro banho! Agora!

Matei a cerveja em um gole só. Fomos para o banheiro. E lá ficamos por um bom tempo… Realmente, o meu treino não tinha acabado. No final, eu estava exausto. Ela me olhava e ria… “Agora sim, pode tomar quantas cervejas você quiser, cara de pau! Até eu vou beber! Estou precisando me recuperar!”

E lá fomos para a sala. Lynyrd Skynyrd no Spotify. Quem é de Niterói sabe que é quase obrigatório ouvir as músicas da banda. Ela resolveu me acompanhar na cerveja. Cerveja com a tal encomenda que tinham deixado para ela na portaria: uma espécie de cesta de frios que iam do presunto de parma ao queijo brie, passando por torradas, geleias e um mix de nuts. Tive outro flashback. Esse mais prazeroso, que me roubou um sorriso interno. Lembranças, memórias e histórias. Havia um dantesco acervo delas dentro de mim e novas eram criadas a todo instante. Eu estava vivo, mais vivo do que nunca.

Conversa vai, conversa vem, e tive que tocar novamente no assunto.

– Dadas as devidas vênias, a doutora deveria saber que a cerveja é mencionada até mesmo no Código de Hamurabi…

– Devo ter faltado a essa aula. Provavelmente, estava tomando cerveja com o pessoal da faculdade – e começou a rir sem parar. Ela estava começando a ficar alta e eu apenas no início de minha “recuperação pós treino”.

No total, foram umas 15 latinhas de cerveja. Ela desabou no sofá com a cabeça no meu colo e o cafuné a fez dormir. Nem parecia aquela mulher brava que se mostrava nos tribunais da vida. Ela era única e ao mesmo tempo como outra qualquer, querendo ser tratada como uma mulher de verdade. Apenas isso. E sim, eu sabia que a minha cara de pau ajudava muito nesse processo. Não era algo pensando ou raciocinado, que fique claro. É o meu mais puro instinto.

Depois de um certo tempo, me levantei para ir embora. Ela nem se mexeu. Já estava me preparando para ir em silêncio, quando ela disse:

– Vai embora sem se despedir?

Fui no quarto e peguei um travesseiro e uma coberta para ela. O ar condicionado estava implacável. Depois de um beijo, disse bem baixinho no ouvido dela:

– Se me arrumar uma escada, eu troco até as lâmpadas, tá?

Ela me deu um beijo sôfrego seguido de uma risada silenciosa, mas que dizia tudo. Tudo. Dessa vez, não esperou nem eu chegar em casa. Simplesmente dormiu e eu simplesmente dormi também. O treino foi realmente exaustivo.

Australian Crawl e Itacoatiara, Niterói/RJ

Feriado de flashback sem Australian Crawl não é legítimo! Sério… Desengavetei os 47 anos com gosto. Essa banda é a cara da praia de Itacoatiara (em Niterói/RJ) na década de 1980. E descobri que ainda é a banda de Itacoatiara em pleno 2019! A música continuava lá… Eu só precisava prestar atenção para ouvi-la.

Bons tempos! E o que é bom fica para sempre. ❤ ❤ ❤

P.S.: Itacoatiara é uma das praias mais bonitas do mundo e isso não é um exagero. Basta ver aqui.