A verdade cura

A verdade é um remédio difícil de engolir, mas é um remédio necessário.

Parecia-me óbvio que a verdade seria capaz de alterar o meu futuro, mas acabei me dando conta de que a verdade também é capaz de alterar o meu passado. Minhas lembranças e minhas recordações mudaram na medida em que a verdade me visitou. Detalhe: ela veio de mala e cuia.

Revi cenas. Revivi momentos. E fui do amor ao ódio, e depois do ódio ao nada. Absolutamente nada. Nada. Nenhum receio ou porém.

Mas ainda assim, tudo que vivi permanece bom e útil de alguma forma. Aquele perfume continua sendo bom. O tesão, a paixão e a putaria também. Idem para os assuntos, os papos, as ideias, os planos, as comidas, as bebidas, as músicas e os dias. Viver o presente sem nada por entender, resolver ou esquecer é uma desintoxicante profilaxia.

A vida é boa. Vida que segue e está tudo bem. Que eu encontre por aí muitas outras doses desse remédio. Já não temo mais nada. Absolutamente nada. Nada. Nenhum receio ou porém.

Entre o tudo e o nada

Eu me lembro de tudo

Não me esqueço de nada

Isso não era para ser um problema

Mas passou a ser

 

Quando tudo e nada

Se misturam e se confundem

Há meio termo eficaz?

Há algo que se possa querer?

 

Eu errei, eu sei

Nunca soube me omitir

Sempre falei mais do que esperado

E sim: sempre foi por querer

 

Forcei alguma reação

Que fosse um tapa na cara

Um chute no saco

Algo para realmente doer

 

Porque na minha vida

O contrário do amor

Nunca foi o ódio

Mas a indiferença do não dizer

 

Hoje, entre o tudo e o nada

Tento respirar,sobreviver

Se tudo realmente fiz, me calo:

Não há nada o que fazer.

nada em tudo