As labaredas que lambem os corpos
E que incendeiam os lençóis
Só fazem sentido
Quando as centelhas
São paridas pelo coração.
As labaredas que lambem os corpos
E que incendeiam os lençóis
Só fazem sentido
Quando as centelhas
São paridas pelo coração.
De todas as urgências que tenho
Nenhuma é maior do que me ter
Porque eu não me caibo
Eu sou maior do que eu mesmo sei ser.
Ela não pediu minha permissão
Só segurou na minha mão
E me fez olhar para frente
Não me pediu explicação
Sem nenhum porém ou senão
Acalentou minha alma descrente
Não tocou meu corpo em vão
Fez novamente bater meu coração
Disse-me tudo que realmente sente
Invadiu-me a felicidade do seu condão
Mostrou-me que nada foi em vão
E que tudo pode um homem valente
Homem
Ela me teve como homem
E ela em mim se fez mulher
Do tipo que sabe o que quer.
A noite avança
Com suas sutis rudezas:
Nada é pouco
Tudo é muito
Talvez mais do que muito
Ainda que não seja o bastante
Para me fazer desabar em meu leito
O sono…
Esse meu amigo traiçoeiro
Que de mim foge de vez em quando
É também fiel conselheiro:
Fatos sobrepõe-se a sentimentos
E desmascaram fantasias e luxúrias de noites opacas
Rasgadas e devassadas por realidades translúcidas
Onde todos os meus tolos e inocentes devaneios
São partidos ao meio
Mas também é na madrugada
Que sempre sou mais meu
E hoje –
Mais uma vez –
Durmo acompanhado
Vamos passar a noite inteira acordados
Nus, amarrados e abraçados –
Pura honestidade –
Só a minha raiva e eu.
Nutria grande paixão
Por livros
E ela lia
Lia
Lia
Lia…
Ora chorava
Ora sorria
Dia após dia
Dia e noite
Noite e dia
Nunca se deu conta
De que era um livro
Escrito com seu sangue
Com sua caligrafia –
Letras
Palavras
Frases
Parágrafos
Capítulos
Que de seus dedos
Escorriam –
E que eu queria
Minuciosamente
Vagarosamente
Lê-la.
Você não pode nos derrubar
Porque eu estou aqui
Com a lua e as estrelas
Eu me elevei
Fui elevado por tudo que sinto
De onde olho
Não há mentiras
Não há truques
É tudo real e vivo
Eu vivo isso tudo…
Eu sinto
De vez em quando
Caem lágrimas
Mas é a chuva…
Você não a sente ou vê?
Sou só eu te amando
E os trovões
São só palavrões
Dores que se doem
Finjo que não sei
Daqui é tudo perfeito, lindo
Eu já desisti
De nos entender
De onde estou tudo é real
Tudo tão fiel, tão sem igual
Somos só eu e você.
Há tanta coisa acontecendo
E eu aqui convencendo meus desejos
A desejar quem de fato me deseja
A não andar na contramão
Há tanta coisa acontecendo
E eu receando novos beijos
Que outrora já foram meus
Que deixei na mais pura escuridão
Há tanta coisa acontecendo
E eu diante do meu espelho
Olhando dentro de mim mesmo
Dizendo não ao sim e sim ao não
Há tanta coisa acontecendo
Os convite que finjo que não recebo
Que estão ao toque dos meus dedos
Que abrandariam toda sofreguidão
Há tanta coisa acontecendo…
Eu estou acontecendo
Crescendo e me fortalecendo
Libertando-me do passado
Por respeito a mim mesmo
E ao que de mais sagrado tenho:
Meu sincero coração.
Nos momentos ruins
Nos dias ruins
Quando tudo e todos
Quero simplesmente esquecer
Sei que neles estão
Tudo que devo aprender
O que fiz?
Por que fiz?
O quanto fiz para chegar até ali?
Obra do acaso
Ou será que tudo eu simplesmente permiti?
E lembro-me que sou responsável
Diretamente responsável
Pelos rumos de minha vida
No excesso
Ou na carência
De sins e de nãos
Colho o que plantei
A vida é assim
Não há perdão
E quando penso que cheguei ao chão
Surge-me Deus
E acaba com minha sofreguidão
Será que desta vez
Aprendi de fato a lição?
Pelo sim e pelo não
Em nome do talvez
Aceito sem porquês
Minha sina
E nutro por ela
Enorme e infinita
E ainda assim aflita
Gratidão.
Teu semblante é de anja,
Mas tua alma é de puta.
Eu sei,
E só eu sei.
Puta.