O inconformismo
Que tantas vezes me bateu à porta
Fez-me bater na porta
Até eu bater a porta
Para nunca mais abri-la.

O inconformismo
Que tantas vezes me bateu à porta
Fez-me bater na porta
Até eu bater a porta
Para nunca mais abri-la.
O cheiro da broa de milho
O café sem pressa
Os vizinhos sempre bem-vindos
Era assim quando eu era menino
E acreditava em coisas à beça
O café agora é espresso
Os vizinhos? Desconheço
A porta da rua sempre trancada
A broa de milho é da padaria
E a violência é a notícia do dia
Saudades da época em que eu achava
Que tinha tempo a perder
Do avô, da avó, dos tios, dos primos
Da sensação de não correr perigo
De ver no mundo um grande e acolhedor amigo
E nesse instante –
Agora! –
Enquanto meus pensamentos vão
Para um passado distante
O tempo parou de seguir adiante
E para mim voltou
É que eu ainda sou o menino
Que se inebria
Quando sente o cheio de erva-doce
E que queria que a vida fosse
Sempre uma tarde de domingo.
Nem tudo foi como eu esperava.
Nem tudo foi como eu sentia que seria.
Nem tudo foi;
Muita coisa ficou.
Mas aquela esperança que eu tinha,
Que hoje acredito ser só minha,
Aos poucos vai se enfraquecendo,
Dissipando-se na ausência repetida,
No silêncio descomedido,
Na falta de razão ou sentido
E ainda assim,
Aparentemente decidida.
Mas eu aprendi a respeitar,
Pois nunca amei só por amar.
Era algo maior que eu…
E não era só por mim,
E só faz sentido se for assim.
Tudo foi por nós.
Tudo.
Tudo.
Tudo.
Sei e sinto que ainda somos,
Mas o que eu posso fazer agora
Além de desejar que você esteja feliz?
Eu não tenho a chave da porta
Que você fechou por dentro.
E mesmo que a tivesse,
Por nós ela só se abrirá realmente
Se você definitivamente abri-la.