Aos trancos e barrancos
Encontrei meu canto
Enquanto meu pranto
Meio que por encanto
Explodiu em sorrisos.

Aos trancos e barrancos
Encontrei meu canto
Enquanto meu pranto
Meio que por encanto
Explodiu em sorrisos.
A gente não procura
Mas ainda assim acha
E quando acha
Quer escapar
Tenta escapar
Até que chega ao ponto
De fingir
Que quer escapar
E acaba por se entregar
Como se não houvesse amanhã
(sempre há!)
E reclama!
Se culpa!
Fala que foi só um tropeço
Que nunca mais se repetirá
Mas a imagem está clara
O cheiro
O gosto
A quentura
O desejo
Tudo leva de volta para lá
E finalmente percebe
Com o passar dos dias –
Quanta agonia! –
Aos trancos e barrancos
No riso e no pranto
Que não dá para largar de vez
O café
E quando não é o café
É o amor
Que sem licença chega
E diz que é.
Que teu pranto
Seja meu pranto
Tua aflição
Minha aflição
Tua angústia
Minha angústia
Teu medo
Meu medo
Tua culpa
Minha culpa
Minha fé
Tua fé
Minha certeza
Tua certeza
Meu sorriso
Teu sorriso
Minha vitória
Tua vitória
Minha vida
Tua vida
Nada além disso
Eu vigorosamente te amo.
E eu escrevo
Escrevo
Escrevo
Escrevo
Escrevo
Não paro
De fato, não consigo
Não é que eu queira
O poema é meu amigo
Serve-me como alívio e castigo
É que dentro de mim cresce tanto
No riso e no pranto
Na alegria e no desencanto
Que eu simplesmente preciso
Para continuar vivo
De alguém ou algo que me escute
Que simplesmente me escute
Sem entender ou perguntar os motivos
É tudo, é muito
Está nos cheiros
Nos gostos
Nas coisas mais comuns
Nas mais complexas
Quem dera os motivos fossem
Apenas alguns
Mas são infinitos
Aflitos
Desde os mais vulgares
Aos mais eruditos
Não se trata só do que aconteceu
É o agora e o futuro
É o que não vivemos
O que não temos
O que fingimos que não temos
É o que sonhamos
É o que queremos
Lembro-me não só do que fizemos
Mas do que não fizemos também
E as lembranças que não ocorreram –
Que existem, porém –
São o cerne dos nossos assuntos
É que mesmo quando estamos distantes
De fato estamos estamos
Sempre
Realmente juntos
Será possível escrever nossa história
Em 211 poemas ou 711 prosas?
Não foram só doces momentos
Há todo tipo de sentimento
E sinto-te aqui, agora
É assim todo o tempo, ora!
E em nossas risadas
Para lá de animadas
Sequer diferencio
O futuro de outrora!
Não há folhas suficientes para isso
Não é possível tudo isso escrever
Ainda estou na superfície
De tudo que fomos, somos e podemos ser
Não vou nem tentar, então
Que seja um livro aberto
Páginas desordenadas
Rabiscadas
E em branco
Que não saem da memória
Idéias soltas
Idéia fixa
Feitiço
Duelo
Outono
Silêncio
Ato
Intensidade
Realidade nossa
Fica comigo
Tua
Confissão
Brinde
Sim… Tudo isso tem nexo
E nós sabemos disso.
Que seja doce encanto
Nunca
Motivo para pranto
E se for
Chegou a hora
Que vá-se embora
Se momentos felizes
Forem a exceção
Esbaldar-se na tristeza
É negar a real necessidade
De dizer um derradeiro
Um definitivo
Um disruptivo
Não.