Também eu sei falar de coisas tristes,
De tudo de ruim que me aconteceu,
Das dores que me perseguiram inclementes,
Das saudades absurdas que me gelaram o peito,
Das vozes que, delirante, fingi que ouvi,
Das noites em claro e da sensação de quase morte,
Dos fins de tarde que pareciam o fim do mundo,
Do Apocalipse que comia e regurgitava minhas vísceras.
Ninguém por perto.
Medo diserto.
Respirar funesto.
Desenredo decerto.
Até que me dei conta
De que nunca me eximi,
Ou mesmo tentei fugir,
Das catástrofes que a mim –
E em mim –
Cabiam:
Tentar esquecer
Era, pois, a forma mais dissimulada
De me lembrar,
Todo santo dia,
De tudo que ainda me habitava
E de tudo que já me foi tudo um dia.
