Se não sentires vontade de falar comigo quando Morfeu te devolve ao mundo ou mesmo quando ele se prepara para novamente receber-te, vai-te embora.
Se a músicas que ouvimos tantas e tantas vezes juntos não te remetem aos inúmeros pequenos e grandes momentos que vivemos juntos, vai-te embora.
Se a calor do sol que esquenta a tua pele não fizer com que te lembres de todas as loucuras que já vivemos na cama (e em outros lugares também), vai-te embora.
Se os aromas e gostos que tanto nos diziam não forem capazes de fazer com sintas frio na barriga ou arrepios na pele, vai-te embora.
Se eu não estiver na lista daqueles que surgem na tua mente quando estás com um problema ou simplesmente porque precisas desabafar, vai-te embora.
Talvez eu implore para que fiques. Vai me doer, vai me fazer sangrar, mas insisto: vai-te embora.
Porque há muito mais no mundo esperando por mim. Eu sei que há, pois já passei por isso antes. Talvez passe por isso novamente. Eu não sei. Só vai-te embora, porque é chegada a minha hora e a nossa hora morreu de inanição.
Mas acima de tudo, vai-te embora, porque não preciso da tua pena. Não preciso da tua misericórdia. Não preciso da tua caridade, porque sei que ainda que eu caia, jamais ficarei no chão. A verdade não é capaz de me matar. Nunca será.
E se assim for, vai-te embora, porque a tua presença impede o milagre do porvir e de tudo que preciso para viver e me sentir vivo.
Eu quero tudo e quero muito. E quero agora, porque eu vivo e sou o agora.
E agora, vai-te embora. Sem demora. Há pressa diante do que a vida ainda tem para mim.
