Os milagre acontecem quando o “vou contigo para onde fores” se transforma em “diga-me com quem e onde vais para que eu decida se irei contigo”.

O mundo se transformou no caos como o conhecemos no dia em que o senso comum passou a reconhecer como sábios e doutores aqueles que dizem somente aquilo com o qual simpatizamos ou estamos preparados para ouvir.
Não desperdice o tempo de um sábio se a tua intenção é permanecer um tolo.
P.S.: Não tenho dúvidas do que outros, muito mais sábios do que eu, já disseram tudo isso antes de mim. Entretanto, achei importante compartilhar.
Estão cortando uma árvore em frente a minha casa
Planejamento urbano? Futuro?
Frondosa, com profundas raízes
Indefesa diante do “progresso”
Não é bem isso que fazemos com nossos idosos
Quando eles se tornam um empecilho?
Fonte inesgotável de sabedoria
Os afastamos de nossas vidas
Dói menos assim, não é mesmo?
Aos poucos, nosso coração se esquece
De quem nos deu sombra, de quem nos fez mingau
De quem nos cuidou e protegeu com sua própria vida
Eu sou essa árvore
Eu sou esses idosos
E se algum dia eu for parar em um asilo
(Sente-se melhor se eu chamar de Casa de Repouso?)
Vou ficar tranquilo
Doente ou sadio
Lúcido ou não
Estarei a poucos passos de encontrar a Deus
E é por isso que eu sempre digo:
Nasci de cabeça para baixo
Minhas raízes não estão na terra
Estão e crescem em direção ao céu.
– Pode encher, por favor… Do que estávamos falando mesmo?
Eu não queria falar ou ouvir mais nada. A bebida era a desculpa. Não queria ficar bêbado. Queria parecer bêbado. Era uma conversa para ser esquecida de tantas vezes que já havia se repetido.
Nada daquilo fazia sentido. A fumaça do cigarro da mesa ao lado me sufocava. O barulho dos carros ao longe. A cerveja nacional cheia de milho. Eu precisava de algum tipo de teletransporte. Precisava sumir.
– Você sempre sai pela tangente quando o assunto não agrada…
– Não é verdade e você sabe disso. Eu só estou de saco cheio de conversar sobre o mesmo assunto todas as vezes. Não dá, entende? Não dá! EU ESTOU DE SACO CHEIO!
O pessoal da mesa ao lado olhou em minha direção. Eles fumando e eu falando alto. Estávamos empatados.
– Quer saber? Vou embora. Lá em casa não tem fumaça, não tem barulho, e a cerveja é de melhor qualidade. Vai ficar?
Levantei-me e fui embora. Poucos metros adiante, pisei em um cocô de cachorro. Merda… Eu não aguento mais essa conversa sobre ter que comprar um cachorro. Cachorro é para quem tem casa! Não consigo imaginar um cachorro em um apartamento.
Na frente do meu prédio, três vira-latas dormindo. Qual a história desses carinhas, hein? Vivem como? Nasceram onde? Já tiveram casa? Estariam com fome ou com sede? Frio?
Puta que pariu… Peguei uma vasilha daquelas de sorvete com água e outra com ração. Por que eu tenho ração em casa? Minha filha me ensinou que já temos vários cachorros. Eles moram nas ruas. Para que eu preciso comprar um?