Você e eu

É lindo tudo que não fomos
Tudo em que não acreditamos
Tudo que nos venceu

Ando pelas ruas relembrando
Muitas vezes sonhando
Com tudo que não nos aconteceu

E o meu castigo, minha pena
É saber que no meu coração
Tudo de fato ocorreu

As lágrimas de sangue em minha face
São a falta do que nem sei se de fato houve:
O início ou o fim de você e eu.

Abraço-me

Descobri que és diferente
Quando tocaste nas feridas
Da minha alma e do meu coração
Sem perguntar se as lesões
Foram autoinfligidas

Sim…
A insistência
A carência
A teimosia
A imaturidade
A inocência
A vaidade
A arrogância
O apego
O desespero
O desamor
O pânico
O medo
A raiva
A humilhação
A solidão

Eu me feri
Eu me machuquei
Tudo doeu
Muito sangrou

Eu me crucifiquei
E nem mesmo de mim me salvei
E agora eu sei:
Dor não se cura com mais dor.

Descobri que és diferente
Porque me mostraste
Que posso lamber minhas feridas
E seguir em frente
Fazer diferente
Porque és diferente
E diferente –
Agora que me lembro
Do que eu já fui –
Eu também já sou.

Eu me perdoo
Eu me abraço
E por isso eu sigo em frente.

Nossa Sina

Faz-se luz na noite do meu dia,
Quando desfilas calma, silenciosa,
Iluminando os alicerces de minh’alma,
Sem saber que o fazes, pois não me conheces,
Ainda assim atendes minhas lúgubres preces,
Seguindo teu destino que te funde ao meu.

Não sei por onde andas, aonde vais,
Pois também não te conheço,
Mas é inegável que tenho por ti grande apreço,
Pelo simples fato de saber que existes.
Dirijo-me para ti, de cabeça em riste,
Com meu lábaro manchado de sangue.

Açoitado fui, vítima de escárnio,
Mas ainda assim respeito as tiranias
Dos que se julgam senhores – pura verborragia!
Mesmo quando o desespero assolava meu leito,
Sonhava em ti, por ti, para que em teu peito
Pudesse alcançar a verdade por detrás.

E tu esperas por mim, sem perceber,
Caminhando os nossos turvejantes dias,
Para acabar de vez com nossa sentimental anemia.
Lembre-se que, quando chegares, nada será como antes,
E eu que ainda sou um mero cavaleiro errante,
Darei grande brado, para em nossa etérea plaga descansar.

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Sangue utilizado com sucesso :)

Faz poucos minutos que recebi essa mensagem. Fiquei emocionado. Já tinha doado sangue várias vezes, mas nunca tinha recebido a confirmação de que meu sangue tinha sido utilizado.

E essa mensagem só reforça algo que eu já sabia: sempre fazer o bem sem me importar para quem. Meu coração está em festa por isso. Sinto-me mais próximo de Deus. ❤

Adeus

Se tu leres o que escrevo,
Saberás que é para ti
Este polido e fiel recado,
Notório, mas nunca por mim revelado,
Escrito com o puro sangue
Que jorra de minha cruz sem peso.

Que se diga, portanto, toda verdade,
Este jugo ao qual me submeto,
Esta poesia que canto ardentemente,
No centro de qualquer esquecido coreto,
Faz de meu corpo sacro púlpito,
De onde todos meus pecados confesso.

E se com lágrimas profanas,
Minha dor eu manifesto,
Reservo-me o direito de querer,
Muito mais do que te quero,
Que todos os meus desvairados devaneios,
Por ti e em ti se encerrem.

Não te direi adeus jamais,
Um louco não carece de loucura,
Simplesmente peço que te vás,
E com tua empáfia procure algures,
Outro coração que possas empalar,
E que tua redenção, não obstante, procures.

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Expiação

De joelhos

Minha fraqueza

Meu cansaço

Eu confesso

E rogo por perdão

Do amor em mim

Sempre manifesto

E que agora

Faz tremer

Meu coração

Que deságua

Em sangue

De meus olhos

Funestos

 

Eis-me aqui

Ao léo

Diante deste

Tenebroso

E assombroso

Céu

Firmamento?

Puro tormento

Cilício da alma

Cruz do que sou

Não há nada

Por inteiro

Todo sangue

De mim

Já jorrou

 

E que essa dor

Seja cura

Para meu corpo

Ante a súplica

Que dessa carcaça

Emudecida

E apodrecida

Ainda ferozmente

Urra

E que o amor –

Ora carrasco

Ora salvador –

Purifique a alma

E traga-me a calma

Para acreditar

Ser concebível

Ainda que impossível

Amar sem sentir

Ou sem ser

Pura

E infinita

Dor.

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Unhas vermelhas

Seriam só unhas

Se não fossem tuas

Tais navalhas divinais

Sobrenaturais

Surreais

Animais

 

Das tuas garras sou presa

Prato principal e sobremesa

De banquete que nunca acaba

De onde sempre se espera

E se quer mais

Sempre muito

Muito além do mais

 

Tal cor é conveniente

Pois é também da cor

Vermelha

E não por acaso se assemelha

À cor do sangue

Que jorra aos borbotões

Enquanto repousamos na cama

Nossos frenéticos

Pulsantes

Ululantes

Urrantes

Alucinantes

Corações

 

Unhas vermelhas

Eram só unhas

Mas como são tuas

Tinham que ser vermelhas

Pois tu bem sabes

Que do amor sou daltônico

Não vejo perigo

Só paixão e devassidão

Seria eu anacrônico?

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Algodão doce

Que me tirem tudo

Menos o meu direito de sonhar

Momentos melhores virão

E sonhos não serão mais sonhos

E eu os poderei tocar

 

Eu faço questão de muito

Mas meu muito é imaterial

E ainda assim é intenso, extenso

É de tirar o fôlego

É de me mostrar que sou mortal

 

E assim, eu erro acertando

E acertando, também por vezes erro

É que o sonho, sempre presente

Nunca, jamais ausente

Eu copiosamente venero

 

E se tropeço e caio

Se sou ferido por espinhos

Levanto-me sujo de sangue

Disfarço e sigo adiante

Meu expurgo faz parte do meu caminho

 

Só peço humildemente a Deus

Que esses sonhos me trouxe

Que alegre meu coração amuado

Pois eu sei que lá, quando eu chegar

Todas as nuvens serão de algodão doce.

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Diga-me!

Nesse momento, não preciso de metáforas, metonímias, catacreses, perífrases… Quero abundantes hipérboles, pleonasmos e anáforas. Quero que as palavras rasguem meu corpo feito navalhas. Quero que jorrem sangrentas obviedades. Quero purgar a realidade. Quero olhar nos olhos da verdade.

Diga-me! Não importa se nascerão deuses ou demônios! Diga-me!

E ainda que eu vire pó, do pó ascenderei ao céu

Não sei se como vítima, juiz ou réu

Meu coração não sabe ficar ao léo

Diga-me! Antes que uma surdez catastrófica me reclame!

Diga-me! Não espere que eu clame! Diga-me!

Ou não diga… E não direi também.

megafone

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