Luz e sombra

Até que ponto o teu padrão de consumo e a tua maneira de viver são realmente teus? Até que ponto tua roupa, teu carro, tuas palavras, teu olhar, tuas felicidades e tuas dores pertencem a ti? Até que ponto te reconheces quando olhas de cara limpa para um espelho?

És o que és ou és o que esperam que tu sejas? És ou estás? Quem és tu, afinal?

Pergunto porque também já não soube quem eu era, e foi um esforço tremendo achar-me em mim.

Já fui minha sombra revirada e retorcida por viver o que eu não era. Nenhuma penumbra. Nenhum atenuante. Puro breu.

Não houvesse espelhos, eu até hoje não saberia de mim. Não houvesse espelhos, até hoje eu acreditaria que eu era só ausência de luz. Sombra e nada mais.

Hoje, sou sol, mas só me tornei sol quando não me reconheci na minha sombra, e isso era algo que ninguém poderia fazer por mim.

Nas sombras

Era o sujeito

A protagonista

Tornou-se penumbra

Distorcida

Mas ainda assim penumbra

E com o passar do dias

Ao apagar das luzes

Sob os aplausos

Do medo e da culpa

Tornar-se-á sombra

 

E talvez assim

Nas sombras

Das sombras

Consiga ressurgir

Renascer

 

Se eu a verei?

Não sei

Talvez eu me lembre

Do que eu via

Do que eu ardentemente

E eternamente sentia

Talvez, algum dia…

Só o tempo vai dizer.

sombra