Nada de azar
Nada de sorte
Só o que eu preciso
Para construir a minha história
E renascer de mim
Por mim
Por fim.

De todas as coisas lindas da vida –
E na vida não faltam coisas lindas –
A vida é sempre das coisas a mais linda.
Ora feliz, ora triste
Ora crente, ora descrente
Tudo permanece, tudo existe
Tudo permeia, tudo insiste
Tudo é porque é
Tudo é vivo
Tudo pulsa
Tudo.
Tenho medo de perder a vida
Não porque tenho medo da morte,
Mas porque há muita sorte
Em se poder ter a vida.
Que os sorrisos invadam!
Que as lágrimas corram soltas!
Pois tudo é parte das coisas lindas
E do privilégio que é poder achar que são lindas
As coisa mais lindas que são a própria vida.
Algumas vezes
É preciso doer como nunca
Para que não doa para sempre
A vida é assim
Nos altos e nos baixos
“Nas favelas, coberturas,
Quase todos os lugares”
Não importa a idade
Ou se é cedo ou tarde:
Ir ou deixar de ir
Decidir ou não decidir
Tudo é ou gera
Uma implicação
Sob a qual versam versos vivos
Que carecem de explicação
É para ser sobre o hoje
E nunca sobre o amanhã
Que soa deveras infinito
Mas que pode não acontecer
Pode não vingar
Pode não ser
A contagem regressiva para a morte
Inexorável, invisível
Foice que alguns deixam
Ao relento
E quando chega
Em um único corte
Foi-se
Independentemente
Do querer ou não
Foi esta a sua sorte.
As pernas –
E que pernas! –
Enlaçam-me em vôo cego,
Sem destino ou pretensão.
Deixo-me ir…
Não me culpo:
Acabei por dizer que sim
Depois de tanto ouvir que não.
Se com o meu nascimento
Inicia-se a implacável
Contagem regressiva
Agressiva
Para minha morte
Valha-me, Deus!
Dá-me um pouco de sorte!
Para que não haja morte em vida
Ainda que seja eterna a vida após a morte.
Caminhos
Escolhas
Como folhas
Flutuam ao vento
E o tempo
Implacável
Indomável
Segue alheio ao teu diferimento
Sonhos de uma vida inteira
De uma vida inteira cativos
Resplandescendo a teus pés
E pelos teus pés comedidos
Posto que a vida apresenta chances
A tu que tens da vida fugido
Ainda que tenhas decretado a morte
De tudo que ainda há para ser vivido.
Deixo-te como herança
O meu sorriso
Ei-lo como na chegada
Este da despedida
O coração?
Não te preocupes
Apesar de não estar bem
Já há disgnóstico:
Ausência total de toda sorte
Também conhecida como
Morte.
Faça lua ou faça sol
Faça inverno ou verão
Por azar ou por sorte
Na luz ou na escuridão
Ela está lá…
Do amor, litisconsorte
Ouças-me bem, saudade:
Uma hora dessas
Estrangulo-te até a morte!
Em silêncio eu espero
Em silêncio, eu espero
E espero na espera
Esperando esperança
No silêncio que impropera
O tempo rasga
O tempo dói
O tempo não cura
Pelo contrário!
Vira do avesso
Eviscera as factíveis
E inesquecíveis lembranças
Do que só tem começo
Ele faz esquecer
Faz esquecer de esquecer
Relembra com intensidade
Cada vez mais tenaz e forte
É legião – e não centúria ou coorte! –
É esforço pra lá de inútil
É desperdício de momentos
É jurar o amor de morte
E assustar-se com sua vingança
Ferindo-nos com um certeiro bote
Do qual não se escapa
Quer seja por prudência ou pura sorte
Mas sei que devo entender –
E ainda assim não entendo! –
Na nossa dor somos vivos
E está por deveras doendo
Mesmo que não saibamos
O futuro acabará sendo
Um desesperado recuperar
De horas……………………
De minutos………………………..
De segundos……………………………….
Que prudentemente ou não
Acabamos perdendo
Que eu esteja errado, então…
Que o vento espalhe
As areias do tempo
E que algum dia
Possamos chamar
Esse aparente – e convincente! –
Desperdício
De um grande investimento
Que não deixou resquícios
E que só criou para o futuro
Uma miríade de melhores momentos
Ainda que, por ora
Nem isso sirva de alento
Só duro e cruel sofrimento.