Era para ser um encontro,
Três doses de gin,
Uma boa foda,
E nada mais.
Agora,
Com ela sempre me encontro,
Minha casa cheira a zimbro,
Das fodas já perdi as contas,
E eu quero é muito,
Muito mais.

Era para ser um encontro,
Três doses de gin,
Uma boa foda,
E nada mais.
Agora,
Com ela sempre me encontro,
Minha casa cheira a zimbro,
Das fodas já perdi as contas,
E eu quero é muito,
Muito mais.
Guarda-me dentro de ti
Porque é só dentro de ti
Que eu (r)ex(s)isto.
Vapor de água que se condensa
E escorre por entre tuas pernas.
Todos os dias tu me orvalhas;
Todos os dias eu me hidrato;
Todos os dias és um fato;
Um oásis que me inunda e se esbarra
Em tudo que de mais sacro há em mim.
Minha seiva,
Meu tormento,
Meu alimento:
Bebo-te,
Trago-te,
Fodo-te…
Dia após dias,
Do início ao fim.
Entendo pouco ou quase nada de espanhol, mas tenho visto nos detalhes da língua labaredas e estampidos que eu desconhecia.
No meu curriculum, nego-me a dizer que tenho espanhol básico ou algo que o valha. Eu não entendo espanhol. Eu sinto. Em nível mais do que avançado, diga-se de passagem.
Tem a ver com os vinhos e com as poesias que há dentro deles. Com os amores intensos que não duram mais que uma noite. Com a aproximação suave de quem chega de repente e fica. Constrói, cativa.
Em espanhol também choro saudades de quem já fui. Foi preciso ser o que não mais sou para que eu fosse o meu agora. Para que as lágrimas que tanto vi refletidas em uma taça de vinho se transformassem em sorrisos. Para que eu pudesse ver além do cristal.
Mas, sobretudo, em espanhol eu te beijo. Em espanhol sou raso e sou fundo. Sou incêndios, furacões e tormentas. O antes, o durante, o fim do mundo.
O espanhol é todas as línguas. A minha, a tua. Língua dos confessionários que são as camas e os quartos. Teus quartos. Tuas entradas. Não há saída.
Teu cabelo negro e avermelhado diante do sol adentra meus vislumbres de Neruda e rasga meu peito. Teu gozo é em braile e arranha meu pescoço, minha alma. Tira-me o chão. Devolve-me tudo.
O espanhol fez e faz isso por mim todos os dias. Estou ouvindo o teu chamado até quando tu não me chamas. Óleo de macadâmias que não saem das minhas mãos bezuntadas de ti que esfrego em minha face. Estou e vivo rúbio.
Ouça minhas palavras com cautela, pois como disse, não sei falar espanhol. Entretanto, bem sei que tu me conheces mais pelo que não digo. Lonjuras entre nós são puro castigo. É real e iminente o perigo.
Ela diz para todos que sou o grande erro da sua vida, e ainda assim ela erra compulsivamente todas as sextas e todos os sábados (domingos a combinar) desde que nos conhecemos.
O amor não acaba de repente. Vai desaparecendo aos poucos, em câmera lenta, e não morre. Simplesmente deixa de existir. Se transforma em nada.
Você pensa em ligar, em mandar mensagens, mas como você sabe qual rumo a conversa irá tomar, dá preguiça. Vira para o lado e dorme.
Você vê uma foto que já disse muito e que já foi até a foto de fundo do seu celular, mas simplesmente a apaga. Não há porque mantê-la.
Você ouve aquela música, que era a música do casal, e não cai uma única lágrima. O peito não aperta. Nada de borboletas no estômago. A música não mais desnuda a tua alma. Por melhor que seja, vira só mais uma entre tantas de uma quase infinita playlist.
Você muda de assunto quando falam do passado. Não porque não goste de falar de algo que foi doloroso em tua vida, mas porque não há mais nada a ser dito. Você não quer mais a tua presença ou a tua imagem associada com quem ficou para trás.
Você sente aquele perfume antigo, que já te disse tanto, se tornar apenas mais um entre tantos. Se liga em novos cheiros, em novos gostos, em novas combinações, e fica animado com as possibilidades.
Você se deixa tocar por outra pessoa. Beija, abraça, fala de tesão, paixão, amor. Vai para a cama e não sente a sensação de estar traindo alguém. Está só vivendo e sendo feliz. Sem pressa. Sem desespero. É você com quem estiver com você e mais nada.
Você reencontra velhos amigos, marca 300 eventos, e em cada um deles se sente plenamente presente, integral. Esquece onde deixou o celular. E se termina a noite chorando, é porque bebeu demais e lembrou da tua falecida bisavó dando sermão no grupo de crianças chatas das quais você fazia parte.
Você se olha no espelho e se sente bem em tua companhia, tranquilo, em paz com a tua consciência e em paz com as tuas escolhas e lembranças. Está seguindo em frente sem olhar para trás.
Difícil escrever um texto sobre o que não mais existe. Ainda assim, este texto é sobre o nada, porque foi no nada que me encontrei e em seguida encontrei tudo.
Do teu perfume e da tua maquiagem sutil,
Da cor e do corte do teu cabelo,
Da gargantilha e do pingente,
Da cor das tuas unhas,
Dos anéis e dos dedos,
Das leveza das tuas mãos,
Da pulseira e da bolsa,
Da tua roupa e do teu salto,
Da tua cadeira e do teu sentar,
Da água e do vinho,
Da tua mão segurando a taça,
Do nosso brinde e de seus motivos,
Dos assuntos e das conversas,
Das palavras e das entonações,
Dos segredos e das confissões,
Dos sorrisos e das risadas.
…
Muitas risadas… Todas as risadas…
…
Do prato principal e da sobremesa,
Da vontade de te ter sobre a mesa,
Da vontade de rolar no chão.
…
Do motorista do Uber e do curto trajeto,
Das mãos entre as tuas pernas,
Da calcinha que desapareceu,
Dos teus braços me segurando diante do desafio que eram as pedras portuguesas,
Do boa noite para os porteiros,
Da falta de limites no lobby,
Da ânsia inequívoca do elevador,
Da chave magnética que o paraíso abria,
Da tua nudez de corpo e alma,
Da pressa absurda pelo abrigo e para o perigo,
Das almas de joelho,
Dos corpos no espelho,
Das roupas pelo chão,
Do prazer, do desespero, do gozo e da sofreguidão,
Do caos e da falta de limites,
Dos lençóis inutilizados,
Da tua cabeça no meu peito,
Dos teus e dos meus suspiros,
Da sensação de que ali estava tudo e que era só seguirmos em frente…
…
Quando me perguntam se eu já fui feliz um dia,
É deste dia que me lembro
E corrijo quem me pergunta:
Desde este dia,
Eu sei o que é ser feliz
E a felicidade
É tudo que de ti me lembra.
Por que toda vez que eu te lambo,
Por que toda vez que eu caio de boca em ti,
Eu nunca mais volto a ser o mesmo de antes,
De antes de você existir?
Percebes que eu naufrago em tuas águas?
Percebes que não me falta fôlego ou vontade?
Em ti e por ti eu sou o impossível!
Derrama-me!
Escorra-me!
Porque toda vez que de ti saio ou de ti me esvaio
Explodo-me na confidência de que só em ti e em ti sei explodir.
Exploda-me!
Foda-me!
Foda-me!
Ad infinitum…
Longe das palavras,
Longe das poesias,
Senti na minha boca
O cheiro
Que somente a ti
Pertencia.
Não me dei conta
Naquele momento,
Naquele lugar,
Que as águas
Que eu estava
A navegar
Eram de fato
De outra fantasia.
Até que ela me perguntou
Se dela eu no futuro
Me lembraria,
E foi aí que me lembrei
De que para ti
Também disse
Que não me esqueceria.
E na inocente sinceridade
Que a ti eu devia
Calei a sua boca
Como pude
Sem qualquer pudor,
Inibição,
Ou hipocrisia.
Talvez eu a ela
Ainda responda
Não hoje –
Defintivamente não hoje –
Posto que o seu mel
Da minha boca
Ainda escorria
Quando fui-me embora
Prometendo voltar
Amanhã
Ou qualquer outro dia.
Entre o esquecer
E o lembrar,
Minha boca
Permaneceu calada,
Mas chocou-me
Não ser mais teu
O cheiro que
Inebriava minha alma
E somente de ti
Verdadeiramente resplandecia.
Como de costume, sentou-se na mesa de seu bar favorito junto com seus amigos e olhou a seu redor para fazer uma espécie de reconhecimento de terreno. Bem a sua frente, uma duas ou três mesas depois, ele se deparou com uma mulher olhando fixamente em sua direção.
Seus olhos e seus cabelos compridos eram negros como uma noite sem lua e sem estrelas. Sua pele era branca como neve. Absurdamente bonita, tal como uma deusa nórdica. Parecia ter 30, 35 anos no máximo. Movia-se com delicadeza e classe. Falava com desenvoltura. Conversava com uma amiga, mas seus olhos estavam bem longe daquela conversa. Era algo tão contundente que era impossível de não ser notado. Os olhos dela o convidavam para chegar mais perto. Ele se sentia hipnotizado. Era praticamente impossível resistir, até porque ele não tinha intenção alguma de fugir daquela deliciosa e inesperada situação.
Era um bar cheio de pessoas bonitas e bem arrumadas, e justamente por isso ele resolveu fazer um “teste de sanidade” com um de seus amigos.
– Me faz um favor? Há uma mulher bem aqui na minha frente…
– Ela não para de olhar para você – respondeu o seu amigo, interrompendo-o.
Ele se deu conta, então, de que precisava fazer algo. Como ela estava acompanhada de uma amiga, sua aproximação tinha que ser estratégica. “Talvez quando a amiga dela for ao banheiro”, pensou. Sabia que não poderia vacilar ou hesitar. Precisava agir rapidamente. Era muito óbvio que os todos homens do bar haviam notado-a. Impossível não nota-la. Impossível.
E assim foi. Quando a amiga se levantou presumidamente para ir ao banheiro, ele imediatamente se levantou também. Sua missão era clara. Ele precisava se apresentar e entender o que estava acontecendo. Foi em direção à mesa e no momento em que iria falar com ela, a amiga retornou. “Esqueci meu celular!”, disse ela. Ele pensou em passar direto. Não deu tempo. Antes que ele pudesse desviar sua rota, a mulher o segurou pelo antebraço delicadamente e olhou bem no fundo de seus olhos.
– Não vai se apresentar? – o coração dele disparou. Por alguns instantes, sentiu como se tivesse esquecido o próprio nome.
– Seu nome é… – ela insistiu. E ele fez o que sabia fazer de melhor: sorriu de volta.
– Antes de eu dizer meu nome, me ajuda com uma coisa? É impressão minha ou você estava olhando na minha direção desde que cheguei aqui?
– Eu sei o seu nome. Não precisa me dizer – sua voz era doce e suave, talvez mais hipnótica ainda que seu olhar – E sim, eu estou olhando para você desde que chegou aqui. Você não se lembra de mim?
Ele reparou bem na fisionomia dela e não se lembrou de nada. “Como eu posso não me lembrar de uma mulher bonita como essa? Ela deve estar brincando comigo. Só pode!”
– Vou ser muito sincero… Eu não lembro. Tem certeza que sou eu? Não sou de me esquecer de uma fisionomia, ainda mais de uma mulher tão bonita quanto você…
– Eu entendo… Você estava acompanhado no dia – ela disse sorrindo.
– Que dia? – ele estava começando a ficar angustiado.
– Eu estava sentada em um bar com um amiga… Falando nisso, deixa eu te apresentar essa minha amiga.
A amiga dela estava voltando. Deu um oi meio sem graça e disse que estava indo embora. Chamou-a para ir embora com ela.
– Vou ficar – disse ela olhando fixamente nos olhos dele.
Elas se despediram e a conversa recomeçou.
– Eu estava sentada em um bar com uma amiga. Não era essa. Era outra. Isso faz uns 3 ou 4 anos, eu acho. Veio até a nossa mesa um morador de rua perguntar se tínhamos algo para dar para ele e fomos interrompidas pela dona do bar, que pediu para ele se afastar. Depois, ela veio até a nossa mesa e disse que não podia dar muita ideia para esse pessoal, porque eram ladrões disfarçados. E foi aí que você disse…
– “Não é porque ele é morador de rua que é ladrão”! E depois, ofereci algo para ele comer e disse para ele se sentar no bar.
– Então, você se lembra?
– É claro que eu lembro! Mas foi isso que fez você reparar em mim? – ele perguntou meio desconfiado.
– Sim! Exatamente isso. Havia um monte de gente no bar. Ninguém falou nada. Nem eu mesma. E você fez questão de se manifestar. Isso me deixou encantada… Achei uma atitude muito masculina… Forte! Coisa rara de se ver nesse dias – os olhos dela brilhavam mais do que nunca. Eram verdadeiros ímãs.
Ele pediu licença e foi até sua mesa pegar o seu copo. Voltou, sentou bem em frente a ela, e ambos embarcaram em uma conversa que durou horas e algumas Heineken. Ambos estavam bebendo com moderação. Ele tinha a sensação de que era o que deveria ser feito. Queria manter as coisas sob controle. Ao que tudo indicava, ela também.
Havia uma empatia, uma espécie de conexão bem fora do comum entre os dois. Descobriram que tinham amigos em comum, hábitos em comum, gostos em comum, até que foram surpreendidos pelo dono do bar dizendo que estavam fechando.
Ele olhou a sua volta e se deu conta que seus amigos tinham ido embora. Aliás, todos tinham ido embora. Só ele e ela estavam no bar. Mais nenhum cliente.
– Vamos continuar a conversa em outro lugar? – ele perguntou com assertividade. A resposta dela o surpreendeu.
– Para onde você quiser! – e enquanto falava, ela mexia em seus cabelos que exalavam um perfume maravilhoso. Ela estava completamente solta e entregue aquele momento e ele também.
– Há um bar perto daqui que fecha mais tarde. Dá para a gente ir andando. Me dá o braço. Andar de salto é complicado…
– Um cavalheiro… Viu como não dava para esquecer?
De braços dados, foram caminhando pela madrugada. Seus corpos agora estavam bem próximos e não havia mais uma mesa entre eles.
Andando ao lado dela, ele se sentia bem como há tempos não se sentia. A diferença de idade entre eles era de 10 anos, mas naquele momento não fazia a menor diferença. Eram apenas um casal feliz, cheio de uma intimidade, de uma cumplicidade que havia sido construída do zero em função de algo que ele mal se lembrava.
Os braços dados e o pele com pele estavam exacerbando a libido dos dois. Era fácil perceber isso pela maneira como eles se olhavam. Uma tensão sexual gigantesca estava sendo criada aos poucos, sem pressa.
Sentaram-se no outro bar e pediram mais uma Heineken, mas dessa vez ele se sentou ao lado dela. Elogiou o seu perfume, e ela ofereceu o seu pescoço sob a alegação de que seria mais fácil sentir o cheiro naquele local. Enquanto ele ia em direção ao pescoço dela, a sua boca interrompeu o seu caminho.
Não se beijaram. Explodiram. Perderam-se nos beijos. Esqueceram do mundo. Até que ela, completamente fora de si, o empurrou, olhou bem dentro de seus olhos e disse:
– Some comigo daqui agora!
– Vou chamar um Uber…
– Não! – ela interrompeu – Eu moro perto daqui. Vamos andando!
Ele obedeceu, obviamente. Foram os 200 metros mais longos da vida dos dois. No silêncio das ruas vazias durante a noite, eles paravam de 10 em 10 passos para mais beijos, mais carícias, mais mãos perdidas, mas sempre com destino certo. A situação beirava o desespero. Nenhum dos dois fazia questão alguma de disfarçar as suas intenções.
– Eu jurava que você estavam sem sutiã, mas de calcinha…
– Sim… Eu estava… Está na bolsa agora.
“Foi por isso que ela quis ir ao banheiro antes caminhar para casa”, pensou.
E aquela situação enlouquecedora continuou até a chegada ao prédio dela. E assim também foi na portaria do prédio. No sofá da portaria. No elevador. E quando a porta da sua casa se abriu, com um só gesto ela ficou nua na sua frente. A garganta dele ficou seca. Ficou extasiado com a perfeição do que via à meia luz. Definitivamente, uma deusa. Uma beleza única, rara, divinal.
– Vem! Eu sou tua!
E assim foi. Ele foi dela e ela foi dele por incontáveis horas. Amaram-se loucamente. Os primeiros raios de sol mostraram corpos arranhados, lanhados e um cheiro incrível de sexo, felicidade e realização no ar.
– Você é uma mulher incrível – disse olhando para o rosto dela, em tom de desabafo.
– Você fez de mim uma mulher incrível – respondeu enquanto aninhava-se no peito dele.
E ficaram ali, em silêncio. Dormiram exaustos por alguns instantes. Até que ele se levantou e começou a se preparar para ir embora. Ela fez um chá e ofereceu um café para ele. Trocaram mais algumas palavras antes da despedida.
– Então… Você vai me dar o seu telefone? – ele perguntou enquanto se encaminhava para a porta.
– Já está na inbox do seu Instagram… – o seu sorriso e a maneira como ela o olhava pareciam de uma menina peralta, daquelas bem arteiras.
– Você foi meu presente de aniversário, sabia?
– Era seu aniversário hoje? Eu não sabia… – suas mãos seguravam o queixo dele com carinho, com doçura.
– Não… É nessa semana. Presente adiantado! Me dá um abraço?
E se abraçaram longamente. E na mente dele, uma música que parecia representa-la: Lady Of The Snow, do Symphony X. Ele tinha certeza que a música era sobre ela.
No caminho até sua casa, acrescentou a seu repertório de crenças que não deveria mais fazer caridade ou se posicionar diante de qualquer injustiça “apenas” porque era o que Deus esperava dele, mas porque nunca seria capaz de prever quem se inspira ou mesmo repara em suas atitudes. Fazer o bem definitivamente era algo que compensava. E ele olhou para o céu e agradeceu a Deus.