Felicidade é uma escolha

Imagine-se em um salão cheio de portas. Algumas abertas e outras fechadas. As fechadas você tenta abrir e não consegue. Estão trancadas. As abertas, cada uma delas leva a um lugar ou a uma situação diferente da sua vida. Levam a seu passado.

Sem saber o que fazer, você olha na parede do salão e percebe que há algumas instruções em um quadro:

“As portas abertas são o seu passado. Não a totalidade do seu passado, mas assuntos que ficaram pendentes na sua vida, muito embora você tenha feito todo o esforço possível para resolvê-los.

As portas fechadas são o seu futuro e novas realidades que o universo está disposto a lhe oferecer.

Observação: é preciso fechar as portas do passado para que as portas do futuro se abram. Não há uma relação direta entre a quantidade de portas fechadas no passado com as que se abrirão no futuro.”

Você se senta no meio do salão, sem saber o que fazer. Revisita as portas abertas. Há uma mistura de apego com saudade em algumas portas. Em outras, pura frustração.

Decide, então, começar por estas. Lembra-se de situações frustrantes, da sua responsabilidade sobre elas e das variáveis que não podia controlar. Tira destas situações lições, e vai fechando as suas respectivas portas, uma a uma. Você nota, inclusive, que uma porta aberta, depois de fechada, não pode ser mais aberta.

Ainda sem entender muito bem o que está acontecendo, você tenta abrir as portas do futuro. Nenhuma delas se abriu. Desconfiado, você volta até o quadro com as instruções e as relê, percebendo que está seguindo a risca o processo.

As portas que misturam apego e saudade são mais difíceis de serem fechadas. Por mais que você as olhe, sente-se impotente e pensa:

“Nossa… Há tantas coisas boas ali naquelas portas… Não sei se consigo fecha-las. Nesta aqui, por exemplo. Amei tanto… Fui tão feliz… Mas ao mesmo tempo, nada de bom acontece nesta porta há muito tempo. O que me faz mante-la aberta é a pena de que não tenha dado tudo certo como eu planejei e o medo de que nada parecido volte a acontecer comigo.”

E assim você se sente diante de todos as portas do passado que permanecem abertas. Tenta abrir as portas do futuro, até para ver se alguma das portas poderia substituir alguma do passado, mas as portas continuam trancadas.

Você volta ao quadro para reler novamente as instruções, mas percebe que elas mudaram. No quadro está apenas uma frase:

“Tenha fé no futuro.”

Sem saber o que fazer, você para diante de cada uma das portas abertas do seu passado e começa a fecha-las. Não todas. As mais fáceis, talvez. Sente um aperto no peito e lágrimas escorrem pelo seu rosto enquanto faz isso. Instintivamente, você tenta reabrir algumas delas, mas elas não se abrem mais. Estão trancadas.

Você sente um misto de desespero, desconfiança, e se sente um idiota por ter confiado em um quadro que muda aleatoriamente o texto que nele está escrito. Sua alma enche-se de medo. Seu coração dispara. Você sente-se enganado.

E depois de passar um longo período refletindo sobre o seu passado, uma semente de uma planta chamada “não tenho nada a perder” começa a brotar dentro do seu coração. E você volta diante das portas que ainda permanecem abertas e vai fechando-as uma a uma, até que se dá conta de que fechou todas.

Tenta abrir, então, as portas do futuro, mas elas permanecem fechadas. Revoltado, você volta até o quadro que agora diz apenas:

“O futuro é seu.”

E você ouve o barulho de muitas portas se destrancando. Todas as portas, tanto as do passado como as do futuro. Não pensa em reabrir as do passado, entretanto. Você já sabe o que há dentro delas. Tenta, então, abrir a primeira porta do futuro e adentra em uma sala cheia de outras portas, que por sua vez, conduzem à tantas outras portas. Nada muito interessante, e você resolve voltar para o salão.

Curioso, você vai abrindo todas as portas do futuro, uma a uma, e em cada uma delas há algo que você sempre desejou ou sempre quis. Algo que voce sempre achou essencial para a sua felicidade. Em uma delas, por exemplo, estava o parecia ser o emprego dos seus sonhos. Em outra, o possível amor da sua vida. Cada porta continha um aspecto importante e não menos relevante na sua totalidade, ao ponto de você não saber qual delas escolher.

Intrigado, você resolve voltar até a primeira porta que abriu. Afinal de contas, por que somente ela parecia não levar lugar algum? E para a sua surpresa, na porta estava escrito FELICIDADE. Você abre a porta e entra para ver se algo mudou, e se depara com o mesmo mundo em que vivia antes, mas com a certeza de que já não carrega dentro de si o peso e as dores do passado. O passado agora permanece dentro de você como memórias e histórias, que não mais doem ou assustam. E você olha para trás e se dá conta de que já não há mais porta alguma. Não há para onde voltar. E em um outdoor todo iluminado, bem a sua frente, um texto que você já conhecia:

“O futuro é seu.”

E então você começa a entender tudo e fala para si mesmo:

“O mundo não mudou, mas eu mudei. Estou pronto para o futuro. O futuro é meu.”

Todo final é triste

Os copos e os pratos ficaram sobre a mesa, porque voltaríamos para terminar o jantar. Nunca mais voltamos.

A comida, agora fria e fedorenta, terá como destino o lixo. Um desperdício diante da fome do mundo, da nossa fome em particular.

Os finais são sempre tristes. Final feliz talvez seja só a morte, porque este acaba de uma vez com toda e qualquer possibilidade de se conviver com outros finais tristes.

Mas ainda assim a morte é um final triste, porque mesmo a vida mais triste de todas, está permeada de momentos que são felizes. Incríveis. Inesquecíveis.

E talvez o amor seja justamente o espaço entre um final triste e outro. O lugar onde a comida ainda está quente e o vinho ainda não virou vinagre. Tudo no ponto e na temperatura certa. Mesa posta e exposta.

E hoje, quando lembro do nosso final triste, lembro dos momentos de amor que foram felizes. Não foram poucos. Eles eram e existem, e insistem em fazer graça, em me fazer sorrir, ainda que seja um sorriso triste.

E vou seguindo em frente, sendo feliz aqui e ali, torcendo para nunca mais ter que viver um final triste, muito embora eu saiba que essa é uma possibilidade que não existe.

Crisol

O que eu procurava
Em mim já existia
E se transformava em poesia
A todo instante

Um universo inteiro
A lua e o sol
Na vida um crisol
De tudo que é verdadeiro

Vivos e gritantes
Os abraços e os beijos
As paixões e os desejos
As taças que já bebi

Todas as minhas vísceras
As tristezas e os medos
As confissões e os segredos
O amálgama de mim

Era essa a minha loucura
Procurar o que eu já tinha
O que em mim se aninha
O que estou disposto a oferecer

É tudo gratuito
Pois nada tem preço
Porque tudo que ofereço
É porque só sei ser assim.

Um dia

O que seria do riso

Sem o choro?

Da presença

Sem a ausência?

Da essência

Sem a aparência?

Do para sempre

Sem o fim?

Da vida

Sem a morte?

 

Nada é por acaso

Só podemos sentir ou ser

Em função do que já não sentimos

Ou do que ja não somos

 

E sim, hoje estou feliz

Mas só porque, um dia

Já estive triste.

Alegria e tristeza

Permita que a alegria e a tristeza invadam seu coração quando necessário. Não fuja destes sentimentos. Sinta-os integralmente e intensamente. Aprenda com eles. Conserte o que pode ser consertado e liberte o que precisa ser libertado. E acima de tudo não perca tempo, pois assim como chegam sem aviso, estes sentimentos também se vão sem avisar.

alegria_tristeza

Só estou triste

Sinto-me completamente

 

Impotente

 

Ou fico anestesiado –

Não sei –

Quando não consigo

Fazer de você

Um grande sorriso

Se há coisa que rasga

Dilacera

E quase mata

É não poder lhe dar um abraço

Um beijo

Só para dizer que vai ficar

Tudo bem

Mesmo que

Nos caminhos da sua

Felicidade

Esteja a tristeza

Do que

Nesse instante

Sou só eu.

triste

Definição

Que seja doce encanto

Nunca

Motivo para pranto

E se for

Chegou a hora

Que vá-se embora

Se momentos felizes

Forem a exceção

Esbaldar-se na tristeza

É negar a real necessidade

De dizer um derradeiro

Um definitivo

Um disruptivo

Não.

confuso