Algumas Merecem

Uma história verídica, ocorrida na década de 1990. Os nomes dos personagens foram omitidos propositalmente.

Algumas Merecem

Ontem à noite eu comprei um botão de rosa vermelha
E a ofereci para alguém muito (supostamente) especial.
Como as palavras me faltavam naquele belo e vívido momento,
Achei que a rosa resolveria meu dilema passional.

Cartola já falava das rosas muito antes de mim
E as evidências da vida não posso negar:
Rosas são ponte Rio-Niterói de razão e sentimento,
Que levam consigo o que o medo prefere ocultar.

Esperava uma resposta positiva, um sim,
Mas um grande silêncio pairou eterno no ar.
Foi por demais triste aquele eterno momento
Pensei em fugir, mas não tinha como para casa voltar.

Sim, eu não ouvi nada e não estava surdo.
Meu Deus, alguém poderia por favor me elucidar?
Existe vida após a morte, outras reencarnações?
Demorarei vidas para esquecer a indiferença, o desprezar.

Eis que surge um nobre, rico e material adversário,
Digno da atenção da minha musa, assassina loura, vulgar.
Com poucas palavras e muito estilo, a convence:
“- Nós precisamo e devemo se amar.”

Até aí nada demais no amor da bela e a fera,
Mas uma parte importante da estória ainda está por se contar:
No mesmo bar aonde estávamos naquele exato instante,
Trinta minutos antes, estavam meu adversário e a sua respectiva titular.

Minha fogosa e cheia de memória mulher dos meus sonhos e pesadelos
Havia visto a titular com meu adversário se agarrar.
Sabia que ele era homem “casado”, quem sabe pai de família,
Mas isso a excitava e ela não pôde e nem quis se controlar.

Antes de sair ela me agradeceu pelo adorável presente…
Disse que a poria em um vaso com água para pudesse vingar.
O vaso eu imaginava de qual tipo neo-pós-impressionista seria:
Uma privada, com a descarga quebrada, cheia de ilhotas a navegar.

Saíram de carro importado levando a minha rosa,
Eu teria pelo menos um (será que existe?) objeto testemunha ocular.
Que me contaria com a maior clareza o decorrer dos fatos,
Para que eu pudesse a mim mesmo me auto-torturar.

A história foi contada com a maior imparcialidade possível, juro.
Uma mensagem quero para os Românticos Anônimos deixar:
Escolham com bastante cautela quem vocês presenteiam,
Pois se muitas não merecem, existem várias outras que não merecem também.

rose-at-night-0

Fecha a conta!

Se há uma cor que nos representa?

Vermelha

 

É sangue

É amor

É paixão

É comichão

 

Sim…

Comi no chão

Comeria onde fosse

Como fosse

Quando fosse

O importante são

Os sabores

Os temperos

Os destemperos

Os exageros

A cor vermelha

Que você me trouxe

 

Bem ou mal passada?

Ao ponto

Vermelha

Para escorrer em mim

Me inundar de prazer

E deixa-la ruborizada

Vermelha

Envergonhada

Da sua explosão

Da nossa depravação

Do puro prazer

 

Não se trata de

Querer ou não querer

Estou com fome

Quero comer você

 

Fecha a conta, garçom!

Ou seremos presos

Por mostrar de verdade

O que é sobre a mesa

 

Vermelha

Nossa cor é

Sempre vermelha

Nossos corações

No ponto

Banquete indecente

Eu e você.

carne-ao-ponto

 

 

 

Cova rasa vermelha

Ao fundo ouço os gritos

São de falta de esperança

Sei que não são de dor ou fome

Eles não saberiam gritar por isso

Nunca deixaram de sentir dor

Nunca deixaram de sentir fome

Não conhecem o oposto disso

 

E na carência ou ausência de tudo

Eis que surge este deus imundo

Que lhes faz promessas sem dó

Esse ser infernal

Que coaduna todo o mal

Não é nem de longe Lúcifer

Mas se acha mais que o tal

 

De vermelho, acena destemido

Sabe que depende do sangue

De quem jura defender

Mas em seguida os fazer morrer

Pois são mero mal necessário

 

E no meio dessa lambança

Onde está de fato Deus?

Leva para longe essa praga

Que assola os filhos teus!

 

E Deus, em seu tempo, responde…

 

Em vermelho, agonizará pela eternidade

E nem mesmo no inferno

Terá a sua imortalidade

Pois nem Lúcifer o quer por lá

 

Será no meio dos que gritam

Em praça pública, nas ruas

Diante dos mesmos que quis

Sempre quis

Enganar

 

Será lembrado para sempre

Pelos que contra ele lutaram

Como adversário covarde

Puto, imbecil, salafrário

Sindicado será por Nosso Senhor

Que não quer cargos ou salários!

 

Quero ver a tal coragem

Quando do fundo da sua alma

For extirpado seu orgulho

E seu nome, feito entulho

For depositado em uma

Cova rasa.

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