Repost em homenagem à querida Rita Lee. Que Deus a receba em seus braços. Obrigado por tudo! ❤️❤️❤️
Postado originalmente em 2022.
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Hoje é dia de beber tudo sem gelo, até porque está um frio danado em Niterói (sim, 16⁰ é o suficiente para aa pessoas congelaram por aqui).
E assim sendo, nada como ouvir uma musa nacional tocando com músicos do gabarito de Steve Lukather. Absurdo! As guitarras desta música são dele. On the Rocks está sendo sentida na pela hoje. 😉
Entendo pouco ou quase nada de espanhol, mas tenho visto nos detalhes da língua labaredas e estampidos que eu desconhecia.
No meu curriculum, nego-me a dizer que tenho espanhol básico ou algo que o valha. Eu não entendo espanhol. Eu sinto. Em nível mais do que avançado, diga-se de passagem.
Tem a ver com os vinhos e com as poesias que há dentro deles. Com os amores intensos que não duram mais que uma noite. Com a aproximação suave de quem chega de repente e fica. Constrói, cativa.
Em espanhol também choro saudades de quem já fui. Foi preciso ser o que não mais sou para que eu fosse o meu agora. Para que as lágrimas que tanto vi refletidas em uma taça de vinho se transformassem em sorrisos. Para que eu pudesse ver além do cristal.
Mas, sobretudo, em espanhol eu te beijo. Em espanhol sou raso e sou fundo. Sou incêndios, furacões e tormentas. O antes, o durante, o fim do mundo.
O espanhol é todas as línguas. A minha, a tua. Língua dos confessionários que são as camas e os quartos. Teus quartos. Tuas entradas. Não há saída.
Teu cabelo negro e avermelhado diante do sol adentra meus vislumbres de Neruda e rasga meu peito. Teu gozo é em braile e arranha meu pescoço, minha alma. Tira-me o chão. Devolve-me tudo.
O espanhol fez e faz isso por mim todos os dias. Estou ouvindo o teu chamado até quando tu não me chamas. Óleo de macadâmias que não saem das minhas mãos bezuntadas de ti que esfrego em minha face. Estou e vivo rúbio.
Ouça minhas palavras com cautela, pois como disse, não sei falar espanhol. Entretanto, bem sei que tu me conheces mais pelo que não digo. Lonjuras entre nós são puro castigo. É real e iminente o perigo.
– Eu sei, mas você precisa fazer uma escolha. A gente não pode ficar nessa para sempre, concorda? – os olhos dele estavam fixos no horizonte. Ao fundo, as nuvens cinzentas por sobre a praia davam um tom de mistério aquela conversa difícil e necessária, ao menos para ele. O tom de sua voz era suave, mas também era firme. Ele precisava de algumas respostas, bem óbvias e ao mesmo tempo essenciais. Ela parecia não se dar conta disso.
– Eu não sei o que dizer… – ela fitava o chão enquanto respondia. Os braços estavam cruzados. O corpo todo retesado. Sua mente girava diante das incertezas que se agigantavam dentro dela. “Eu não sei… Eu não sei… Eu não sei… ” Era tudo que ela conseguia dizer no momento. Tinha plena noção do quanto estava insegura por conta de seu último relacionamento. Pensar em viver algo tão doloroso novamente simplesmente a paralisava. Ela não conseguia pensar em recomeços. Ainda estava sendo açoitada pelo fim.
– Bom… Isso para mim é uma resposta. Não vou insistir mais, apesar de gostar muito de você. A gente se esbarra por aí. Qualquer coisa, me liga.
Ela ainda tentou dizer algo, mas ele já estava com os fones no ouvido. Já tinha a resposta que precisava. Ficou decepcionado, mas engoliu a verdade em seco de uma só vez. Foi embora sem olhar para trás.
Chegou em casa e foi tomar um banho. Se serviu com um pouco de água de coco e pegou o telefone. A indecisão dela era uma decisão na visão dele. “Já passei por isso antes e aprendi a lição”, disse para si mesmo diante do espelho, fazendo força para acreditar em suas próprias palavras. Por conta disso, até para provar que era capaz de esquecer tudo aquilo, resolveu responder a uma mensagem que recebera mais cedo no WhatsApp.
“Oi! Tudo bem? Ainda está valendo o convite?”
A resposta veio em menos de 30 segundos.
“Sim! Faz tempo que não como aquela pizza! Você me encontra lá em 1 hora?”
“Com certeza! Bjs!”
Ela mandou um coração de volta. Ele sorriu.
Foi um sorriso conflitante, hipócrita. Um sorriso de quem sabia que não precisaria passar a noite sozinho, mas que também sabia que não era com aquela mulher que ele gostaria de estar. Na prática, ele estava fugindo deste e de outros encontros. Apesar de não estar oficialmente namorando, não gostava de sair com mais de uma mulher ao mesmo tempo. Era algo dele. O seu coração era assim. Ele era assim. “Pelo menos ela foi sincera. Logo, caminho aberto para a próxima. Para as próximas.” Nem ele mesmo acreditava em suas palavras.
Se encontraram no restaurante como combinado. Ela tinha um olhar de femme fatale. Na cabeça dele, ela era uma devoradora de homens. Ele seria apenas mais um. Ele via isso como algo bom: nenhuma expectativa é o equivalente a nenhuma frustração.
– Então… – ela disse – Finalmente resolveu atender ao meu convite… Eu já estava quase desistindo.
– Nada… Só estava meio atarefado – os olhos dele estavam dentro do decote dela. Era impossível não notar a fartura daqueles seios.
– Aposto que tem a ver com a sua namorada… Como é mesmo o nome dela? – o tom da voz dela era de deboche.
– Eu não tenho namorada. E eu não estaria aqui se tivesse uma. Vamos beber o quê?
Apesar dele não ter namorada, o comentário mexeu com ele. “Eu não tenho namorada, mas gosto de uma pessoa. Isso vai muito além de um título ou estado civil “, pensou.
– Eu tenho uma sugestão. A gente come algo mais leve… Tipo uma burrata. E depois a gente vai para um lugar mais calmo. Pode ser?
– O quê? – ele estava olhando para o cardápio enquanto ouviu o convite. Ficou olhando para ela como se não estivesse entendendo nada, muito embora fosse capaz de compreender exatamente o que estava acontecendo.
– Deixa disso… Faz 3 meses que quero sair com você. Olha a nossa idade… Não vamos perder tempo com formalidades, vai…
– Mas e a pizza? Eu estou com fome! Eu quero comer pizza! Garçom, quero uma burrata. Qual pizza você me recomenda? Sim! Pode ser essa! Deve ser deliciosa! Tudo bem com você se eu pedir essa? Ok. E o vinho vai ser… Aquele ali da outra mesa. O que aquele pessoal está bebendo…
A cardápio virou a sua tábua de salvação. Lembrou da série Seinfeld e das argumentações absurdas entre os personagens. Era assim que ele estava se sentindo.
Eles riram muito durante o jantar. Comeram a burrata, tomaram vinho, comeram pizza… Teve até sobremesa! Ela ainda insistiu algumas vezes no “a gente vai para um lugar mais calmo”. Ele insistiu nas desculpas no maior estilo Seinfeld. Em alguns momentos, teve até vontade de rir. Quem sabe em outros tempos, em outro lugar. Quem diria não para essa mulher? Ele disse da forma mais educada que conseguiu. Afinal de contas, nunca se sabe do futuro.
Despediram-se. Nada de “até manhã” ou “depois a gente se fala”. Ela foi para a casa dela. Ele foi para a casa dele. Se ela ficou chateada, ele não percebeu. Se sentiu bem por ter sido fiel a seus sentimentos e isso não tinha preço.
Ele ligou a TV e resolveu verificar as suas mensagens no WhatsApp. Uma delas dizia:
“Pensei muito na nossa conversa de hoje de tarde. Eu estou gostando de você e isso me deixa insegura. Sei que você não tem obrigação de entender isso. Me liga quando puder.”
Ao invés de responder à mensagem, preferiu ligar. Já eram 3 horas da manhã. Ela atendeu com voz de sono já pedindo desculpas.
– Eu queria me desculpar pelo que te disse hoje na praia…
– Eu que deveria pedir desculpas pelo ultimato… – disse ele interrompendo-a com delicadeza.
– Digamos que seu ultimato me fez perceber algumas coisas… Sendo uma delas que não estou disposta a ficar longe de você – sua voz era um misto de malícia e sensualidade. Ela estava se confessando e pelo que ele sabia dela, falar de sentimentos era algo que ela realmente tinha dificuldades em fazer.
– Quer dizer que ultimatos funcionam, professora? – o comentário sarcástico a fez rir justamente por conta dela ser formada em Relações Internacionais e ministrar aulas sobre o tema.
– Depende… – a risada veio acompanhada de uma explicação – Desde que a outra parte não entenda como um blefe e não esteja disposta a encerrar as conversações, funciona sim.
– Eu não estava blefando.
– Eu sei.
Imediatamente, ele foi até a geladeira e abriu uma garrafa de espumante. Ele precisava comemorar. Em ambos os casos, em episódios completamente distintos, seguiu a sua intuição e ouviu o seu coração. Na praia, foi embora no momento certo. Na restaurante, foi fiel a seus sentimentos. Sentiu orgulho de si mesmo. Sorriu.
Os dois dormiram juntos em casas separadas naquela noite. As negociações avançariam pela manhã. Diplomatas em missão de paz, por assim dizer. A esperança parecia estar vencendo o medo.
E a pizza? A pizza estava deliciosa. A vida estava deliciosa.
Hoje Meu amor, minha vida Calhou de me dar a vontade De escrever uma despedida Que depois de duas garrafas de vinho Parece-me a única avenida Ainda que seja um beco sem saída Ou trilhos que levam-me ao nada
Há tempos não ouço de ti Há tempos não toco tua pele Há tempos não sei de nós Há tempos… E parece-me toda uma vida Dada com os burros n’água
E nesse turbilhão de saudades Nessas pequenas e diárias eternidades Por uma última vez Venho aqui dizer que te amo E que te amarei para sempre Todos os dias Até mesmo nos dias Em que eu não amar-te-ei: Dias que não existem
Ad infinitum Esta, pois, é a minha vontade Mantém-se a minha doce santidade Na presença que não se materializa E que me estrangula de tanta saudade Esvai-se a minha sanidade No perfume que deixaste Em tudo por aqui E que todos os dias Pelo vento confirmas e trazes
Amor meu Onde estão os olhos teus? Que tanto me iluminavam Que tanto me diziam A tua voz que me sorria O que sem dizer, dizias…
Eu não sei E de tanto não saber De mim mesmo estou farto
Dei-te meu mundo Cada e todo segundo O que em mim há de mais fecundo De mais profundo Se foi… E sequer sei para onde Eu mesmo me fui: Meu destino é ignorado
Não sinto-me sozinho – Por certo – Estás sempre por perto! – E em meu peito O coração sempre aberto Clama por teu nome Que não repetirei aqui Em memória do que não foi vivido Em nome do respeito e do zelo Que sempre nutri e nutro por ti
Hoje Meu amor, minha vida É só um dia qualquer Onde eu homem E tu que eras Para ser minha mulher Não se encontram E nesse eterno não encontrar Hoje, morri de saudades E ainda assim estou aqui Absorto em minhas flexuosidades
Erguerei outras taças Farei outros brindes Conhecerei outras pessoas Mas, hoje Tudo que me cinge Tem o teu nome E é em memória de ti Por si Em dó Por todas as notas Que por nós são Uma única melodia E só
E a minha faina É todos os dias – Mentir E fingir que nunca – Profunda e absolutamente – Eu te conheci Mas de fato conheço-te… E conheço-te Porque vivo-te E de ti nunca me esqueci.