Não há nada de errado:
Não há inocentes,
Não há culpados.
A vida continua doce
Na ira,
Na birra,
Na verdade
E na mentira.
A vida segue como é
E não como se fosse;
E confesso que se talvez fosse,
Não seria tão boa quanto é.

Não há nada de errado:
Não há inocentes,
Não há culpados.
A vida continua doce
Na ira,
Na birra,
Na verdade
E na mentira.
A vida segue como é
E não como se fosse;
E confesso que se talvez fosse,
Não seria tão boa quanto é.
Todos os dias que eu pedi que se fossem lentamente,
Não duraram mais do que um estalar de dedos.
Todos os dias que eu pedi que se fossem rapidamente,
Não duraram menos de que uma eternidade.
Pensei em usar todos os tipos instrumentos estatísticos,
Para facilitar a minha passagem,
Considerando valores, dispersões, pesos e frequências,
Ou mesmo fazer com dados uma modelagem,
Seguida de alguma regressão ou análise,
Mas o resultado era sempre mesmo:
24 horas por dia –
Todos os dias –
Dormindo ou acordando cedo ou tarde.
E depois de todo este esforço,
Cheguei a uma única conclusão:
Todo dia é uma certeza
Permeada de talvezes:
Algumas vezes sim,
Algumas vezes não,
E nada me cabe entender,
Porque por mais que a vida seja minha,
As traquinagens da vida minhas não são.
– Ontem, foi muito engraçado!
– E por que você está me contando isso?
– Ué… Porque ontem foi muito engraçado.
– Faz algumas sessões que você aparece apenas para me contar as coisas que te acontecem. Coisas com as quais voce agora sabe como lidar. Você sabe como agir e reagir diante delas. Eu apenas te ouço. Tem sido assim.
– E o que isso significa?
– Significa que os 5, talvez 6 anos que você investiu na sua terapia chegaram ao fim. Você está pronto.
– Como assim? Falo com você toda a semana! Como é que eu…
– O nosso trabalho está concluído. Chegamos ao fim. Parabéns, Fabio! Agora é com você.
Terminei a sessão e passei alguns minutos olhando para o nada. Uma única lágrima desceu do meu rosto. Somente uma. Eu realmente estava e me sentia pronto.
Não sabia exatamente o que era um tratamento psicológico. Entrei no processo porque as frases de Freud, Jung e Lacan sempre me chamaram a atenção. Como resistir a elas?
Foi o melhor e maior investimento que já fiz em mim, na minha vida. Cheguei a ficar desempregado, mas não desisti da terapia nem por um segundo. Era algo que eu sabia que precisava, e hoje tive a notícia que um dia eu esperava ter: minha alta psicológica ou algo assim.
Olhei para o mundo e pensei no que tinha mudado. Ao olhar, percebi que via as mesmas coisas, mas que meu entendimento e minha percepção sobre elas tinha mudado ou evoluído muito.
Se eu mudei? Provavelmente, mas muito mais do que isso, eu me conheci. Minhas qualidades, meus defeitos, meus limites, minhas missões neste mundo.
Hoje, estou melhor comigo mesmo. Me aceito. Foco no que tenho que melhorar (muitas coisas). Me realizo nas partes do meu eu que já estão avançadas (outras muitas coisas). Percebo e sinto de maneira transparente as pessoas e as coisas ao meu redor. Me sinto mais seguro, mais confiante. Me sinto mais dono de mim.
09 de Janeiro de 2023 – O dia que eu renasci. Obrigado a todos e tudo que sabendo ou não conspiraram por este momento. Obrigado a minha psicóloga, pois sem ela eu não teria conseguido. Obrigado a mim mesmo por ter acreditado em mim. E, acima de tudo, obrigado a Deus por ter me colocado no caminho certo.
Estou muito, muito feliz. Que o mundo se acostume a meu eu assim. É assim que vai ser de agora em diante.
P.S.: Nada me impede de fazer umas sessões de reforço quando eu sentir que preciso. Agora, é só uma questão de escolha. 🙂
Também eu sei falar de coisas tristes,
De tudo de ruim que me aconteceu,
Das dores que me perseguiram inclementes,
Das saudades absurdas que me gelaram o peito,
Das vozes que, delirante, fingi que ouvi,
Das noites em claro e da sensação de quase morte,
Dos fins de tarde que pareciam o fim do mundo,
Do Apocalipse que comia e regurgitava minhas vísceras.
Ninguém por perto.
Medo diserto.
Respirar funesto.
Desenredo decerto.
Até que me dei conta
De que nunca me eximi,
Ou mesmo tentei fugir,
Das catástrofes que a mim –
E em mim –
Cabiam:
Tentar esquecer
Era, pois, a forma mais dissimulada
De me lembrar,
Todo santo dia,
De tudo que ainda me habitava
E de tudo que já me foi tudo um dia.
E no final,
O rastilho falhou.
Dizem que foi obra
De Nosso Senhor
E disso eu não duvido.
Nada explodiu,
Ninguém morreu –
Doeu, mas já passou –
Que fim tudo levou?
Eu não sei
E só quando sei
É que digo.
Talvez haja explicação –
Talvez não –
Mas se esta existe,
Não está de bem comigo.
Vou ser mesmo é trovador
E falar por aí do amor,
Daqueles que ninguém
Nunca sentiu
Ou nem mesmo falou,
E que toda noite,
Invariavelmente,
Dorme comigo
E serve-me de abrigo.
A arte não pode ser silenciada,
Porque o amor urge e grita,
E a vida,
Tão passageira e efêmera
Quanto parece ser,
Está sempre em chamas.
O que eu nego que me aconteça,
Ainda assim não deixa de me acontecer.
E o que eu sinto –
E que só eu sei que verdadeiramente sinto,
Quer seja por anos ou instantes –
Está além de censura
E de toda e qualquer opinião.
Eu existo.
Parece-me o bastante.
Resta me tudo, então:
Apenas viver.
Dizem que os passarinhos,
Em suas gaiolas frias e apertadas,
Cantam porque estão tristes.
Eu já penso que não.
Eles cantam, cantam e cantam,
Porque ninguém consegue
Aprisionar ou calar neles a esperança
De que haverá melhores dias.
Guarda-me dentro de ti
Porque é só dentro de ti
Que eu (r)ex(s)isto.
Se perdoe, vai…
Se perdoe e vá.
Pois a vida é curta
E o tempo é breve.
Mas as memórias e os sentimentos,
O calor e a cor dos momentos,
As nuances dos tempos,
São perpétuos
E transcendem jazigos perpétuos.
Se perdoe, vai…
Você merece.
Simplesmente vá.