Agora

Se não sentires vontade de falar comigo quando Morfeu te devolve ao mundo ou mesmo quando ele se prepara para novamente receber-te, vai-te embora.

Se a músicas que ouvimos tantas e tantas vezes juntos não te remetem aos inúmeros pequenos e grandes momentos que vivemos juntos, vai-te embora.

Se a calor do sol que esquenta a tua pele não fizer com que te lembres de todas as loucuras que já vivemos na cama (e em outros lugares também), vai-te embora.

Se os aromas e gostos que tanto nos diziam não forem capazes de fazer com sintas frio na barriga ou arrepios na pele, vai-te embora.

Se eu não estiver na lista daqueles que surgem na tua mente quando estás com um problema ou simplesmente porque precisas desabafar, vai-te embora.

Talvez eu implore para que fiques. Vai me doer, vai me fazer sangrar, mas insisto: vai-te embora.

Porque há muito mais no mundo esperando por mim. Eu sei que há, pois já passei por isso antes. Talvez passe por isso novamente. Eu não sei. Só vai-te embora, porque é chegada a minha hora e a nossa hora morreu de inanição.

Mas acima de tudo, vai-te embora, porque não preciso da tua pena. Não preciso da tua misericórdia. Não preciso da tua caridade, porque sei que ainda que eu caia, jamais ficarei no chão. A verdade não é capaz de me matar. Nunca será.

E se assim for, vai-te embora, porque a tua presença impede o milagre do porvir e de tudo que preciso para viver e me sentir vivo.

Eu quero tudo e quero muito. E quero agora, porque eu vivo e sou o agora.

E agora, vai-te embora. Sem demora. Há pressa diante do que a vida ainda tem para mim.

Vim trazer verdades 57

No geral, todos dizem que você deve “pensar fora da caixa”. Experimente fazer isso. Em menos de 5 minutos, vão tentar te colocar de volta na caixa na base da porrada se necessário for.

Conclusão: você pode e deve pensar fora da sua caixa desde que seja na caixa do mainstream ou do senso comum.

Nuvens cinzentas

As nuvens –
Antes cinzentas –
Assopram-me em direção ao sol.

Justo o sol,
Que sempre lá esteve.
Justo o sol,
Que das nuvens independe.

Mas eis que voar por entre
As nuvens densas e cinzentas,
Fez-me valorizar ainda mais o sol,
Que me aquece,
Que me remexe,
E minha pele aquece,
E faz bater meu coração.

Queria eu ter entendido antes,
Que as nuvens então cinzentas,
Eram catalisadoras da minha ascenção.

(querendo eu ou não)

Pelas nuvens cinzentas eu ascendi,
E o sol tudo em mim acendeu.

Orvalho

Vapor de água que se condensa

E escorre por entre tuas pernas.

Todos os dias tu me orvalhas;

Todos os dias eu me hidrato;

Todos os dias és um fato;

Um oásis que me inunda e se esbarra

Em tudo que de mais sacro há em mim.

Minha seiva,

Meu tormento,

Meu alimento:

Bebo-te,

Trago-te,

Fodo-te…

Dia após dias,

Do início ao fim.

As saudades me fazem viver

Uma das coisas que descobri é que algumas pessoas seguem comigo mesmo que já tenham ido para o céu ou estejam longe fisicamente. E elas mostram sua presença do nada, em situações cotidianas e corriqueiras.

Comer aquele queijo, andar naquela praia, ir naquele parque, tomar aquele café, trocar aquele sorriso, realizar aquele sonho que seu irmão nunca teve a chance de viver, e assim descobrir que fica sempre um pouco do outro dentro de mim, e que sempre fica dentro do mim um pouco do outro, independente da minha vontade.

Quando eu era mais novo, escrevi um “livro” (eram páginas de uma impressora devidamente encadernadas). Dediquei este “livro” a meu irmão, que foi para o céu com apenas 8 anos de idade, com os seguintes dizeres:

“Tempo e distância são nada entre nós.”

Continuam não sendo. Nunca serão.

De vez em quando, eu fico triste. Não estou falando do meu irmão especificamente, mas porque me parece que envelhecer é acumular saudades. E toda a vez que eu sinto qualquer tipo de saudade, eu acredito mais ainda em Deus. A saudade me faz acreditar na vida eterna, no paraíso, e me faz acreditar que, algum dia, de alguma forma, eu vou voltar a sentir e a ter bem perto de mim aqueles que deixaram partes da minha vida congeladas quando se foram ou se afastaram.

E ainda assim, eu quero viver todas as minhas saudades. Delas não me desapego, porque a saudade me faz lembrar nos meus piores dias que em outros tantos eu fui muito, muito feliz. E que assim será até o fim dos meus dias. Sem nenhuma saudade – e são muitas, muitas – eu teria certeza de que eu nunca soube o que é viver.

Vim trazer verdades 51

Após o fim de um relacionamento, ficam as coisas ruins e tristes que impedem a reconciliação, e também as coisas boas que de alguma forma parecem impossíveis de serem vividas novamente.

As coisas ruins e tristes são processadas e esquecidas com o tempo. Já as coisas boas… Com o tempo, são guardadas na lista de boas memórias, com muito carinho, para que a vida siga em frente.

À mercê do mar

Diga-me, mar,
O que fazer
Com estas ondas de felicidade que me banham,
Que não sei se são pura ressaca
Ou se é assim que agora hão de ser.

Diga-me, mar,
Se do amor já é chegado o tempo,
Para em tuas águas recomeçar
Rumo ao destino por mim desejado,
A mercê do poder e da força dos teus ventos.

Na estrada

Estou seguindo nesta estrada

Retas e curvas

Não deixo escapar nada

E o melhor de tudo

É que estou de carona –

Dia e noite, na madrugada –

E ainda assim me dirigindo

Por esta jornada

Que nunca se repete

E que nunca, nunca

Se acaba.